Depois de, na quinta-feira passada, ter sugerido que os doentes com Covid-19 injetassem desinfetantes para se curarem, o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, vem agora pedir que as pessoas usem o “senso comum”.

“Lembrem-se, a Cura não pode ser pior do que o problema em si. Tenham cuidado, estejam seguros, usem o senso comum!”, escreveu na rede social Twitter, à qual tem recorrido com (ainda) mais veemência nos últimos dias, depois de na sexta-feira ter dado a conferência de imprensa mais curta desde o início da epidemia, sem direito perguntas, e de não ter feito nenhum briefing no sábado.

A ‘sugestão’ de Trump na conferência de quinta-feira — o presidente norte-americano disse depois que estava a ser “sarcástico” — levantou a indignação de muitos profissionais de saúde. Mas houve cidadãos que preferiram confirmar com as linhas de apoio que, efetivamente, não podiam injetar semelhantes produtos.

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Segundo a ABC News, que cita o gabinete do governador Larry Hogan, mais de uma centena de pessoas no estado norte-americano de Maryland ligaram para uma linha de apoio de emergências e perguntaram sobre o consumo de desinfetante. O aumento do número de chamadas levou a Agência de Gestão de Emergências de Maryland a divulgar um alerta: “Em nenhuma circunstância deve ser administrado desinfetante no corpo através de uma injeção, ingestão ou outro método”.

A rádio NPR acrescenta que na cidade de Nova Iorque, o Centro de Controlo de Intoxicações recebeu mais chamadas do que o normal, um dia depois das afirmações de Trump. Segundo o departamento de saúde da cidade, num período de 18 horas até às 15h00 (hora local) de sexta-feira, registaram-se 30 casos de intoxicação — entre os quais, 10 relativos a contacto com lixívia e 11 de exposição a produtos de limpeza doméstica. No mesmo período do ano passado, tinham sido registados 13 casos. Se há uma relação direta entre o aumento de casos e as declarações de Trump? Não é certo, mas a comissária de saúde da cidade não deixou de  desencorajar as pessoas a injetarem lixívia e outros desinfetantes.

“Claramente, os desinfetantes não têm como fim o consumo, quer pela boca, ouvidos ou pelo nariz — de nenhuma forma”, sob consequência de causarem um “grande risco” para a saúde, disse Oxiris Barbot, num vídeo no Twitter.

Na quinta-feira passada, na (até então) habitual conferência de imprensa diária, Donald Trump questionou-se sobre se a infeção de desinfetantes poderia ajudar a matar o vírus.

“Vejo que o desinfetante mata o vírus num minuto. (…) Existe alguma forma de conseguirmos fazer isso [no corpo], por exemplo através de uma injeção ou uma espécie de limpeza? Eu não sou médico mas sou uma pessoa com um bom instinto (…) Suponhamos que atingimos o corpo com uma tremenda luz, quer seja ultravioleta quer seja apenas uma luz muito poderosa (…) Suponhamos que se leva a luz para dentro do corpo, o que podemos fazer através da pele ou de outra forma”, disse.

Trump falou em sarcasmo e fake news. Agora, nem foi à conferência. Mas há uma história que explica o “desinfetante gate”

Ainda antes das declarações de Donald Trump, já o número de casos reportados ao Centro de Controlo e Prevenção de Doenças pelo consumo de produtos de limpeza e desinfetantes tinha subido 20% nos primeiros três meses do ano, face ao mesmo período do ano passado. Segundo o mesmo Centro, este aumento pode estar ligado com o maior contacto com produtos de limpeza devido às recomendações de um reforço da desinfeção dos espaços.