Vários sacerdotes demonstraram publicamente o seu desagrado com as comemorações do 1.º de maio, organizadas pela CGTP, esta sexta-feira na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa. Ou no Facebook, através de publicações, ou na própria missa, transmitida através da mesma rede social. Na sua larga maioria, a indignação dos sacerdotes estava relacionada com o facto de a celebração do Dia do Trabalhador ter sido autorizada mas as cerimónias religiosas permanecerem proibidas — com um pároco a referir mesmo que “não há dúvida de que a gerigonça manda neste país”.

Foi na Paróquia de São Nicolau, em Lisboa, que as comemorações do 1.º de maio mereceram um comentário por parte do pároco Mário Rui Pedras. “Não me deixo de surpreender diante das milhares de pessoas que hoje celebraram o Dia do Trabalhador. Não me deixo de surpreender ao verificar que a Alameda [D. Afonso Henriques] tinha tanta gente e o Santuário de Fátima, no dia 13 [de maio], estará deserto. Não me deixo de surpreender quando, no dia 4 de maio, os funerais apenas podem ser acompanhados pelas famílias (…) Não há dúvida de que o sobressalto católico não vai ter efeito mas também não há dúvida de que a geringonça manda neste país”, disse o sacerdote, esta sexta-feira, durante a missa transmitida através do Facebook.

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Já o padre Nuno Rosário Fernandes, pároco de Benfica e diretor de comunicação do Patriarcado de Lisboa, partilhou imagens das celebrações na Alameda e classificou o episódio de “vergonhoso”. “Fiquem em casa, não saiam do concelho, mas vamos todos para a Alameda”, acrescentou.

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“Era absolutamente desnecessário. Mas não façamos de meninos birrentos zangados”

Também o padre João Manuel Silva, um dos responsáveis pelo portal Ponto SJ, o portal dos Jesuítas em Portugal, garantiu que os sacerdotes católicos estão “a dar um exemplo ao mundo de colaboração com o interesse da comunidade” e sublinhou que devem estar “felizes” por cumprir esta “missão”, numa publicação no Facebook. Ainda assim, ressalva que “lamenta o que aconteceu na Alameda D. Afonso Henriques”. “Era absolutamente desnecessário. Mas não façamos de meninos birrentos zangados com quem não cuida do bem comum do mesmo modo que nós. Nós não fechámos as igrejas porque o Governo mandou. Fechámo-las, com grande sofrimento, porque essa é a forma de proteger a comunidade neste momento de crise”, completou o padre João Manuel Silva.

Já D. Nuno Almeida, bispo auxiliar da Arquidiocese de Braga, partilhou na mesma rede social um texto da autoria do cónego João Aguiar. No texto, o cónego indica que as medidas adotadas pela Igreja Católica foram levadas a cabo com “grande sofrimento interior”, pois “qualquer domingo não é, para este católico, menos que o 25 de abril ou o 1.º de maio para este normal cidadão”. “Pessoalmente, não pregarei revoltas nem desobediências perante orientações de âmbito nacional ou diocesano — porque a última coisa que quero é que venha a pesar-me na consciência a saúde ou a vida de terceiros”, pode ler-se na publicação, onde o cónego João Aguiar questiona ainda “que explicações têm as exceções que fecham uma estrada municipal ou a largura de uma praia e abrem uma alameda”.

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O Observador contactou o Patriarcado de Lisboa, com o objetivo de obter um comentário às críticas feitas por vários sacerdotes às comemorações do 1.º de maio. O Patriarcado remeteu para a Conferência Episcopal Portuguesa, por este se tratar de um “assunto a nível nacional”, mas o Observador não conseguiu até agora entrar em contacto com a mesma Conferência Episcopal.