Mais de metade dos professores não conseguiram entrar em contacto com todos os seus alunos desde o início do ensino à distância. O número foi avançado pelo líder da Fenprof que diz que 56% dos docentes deparam-se com este problema. Mário Nogueira falava durante uma conferência de imprensa, em Coimbra, durante a qual apresentou os resultados preliminares de um inquérito que a federação de sindicatos fez a cerca de 4.000 professores e anunciou que a Fenprof pediu pareceres a peritos sobre a reabertura das aulas a 18 de maio.

Sobre a falta de contacto com os alunos, Mário Nogueira não precisou os motivos que levaram a isso, tendo apenas avançado a hipótese de poderem ser alunos sem acesso a computador ou internet e, portanto, impossibilitados de poder recorrer ao ensino à distância.

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Para além destas, o inquérito da Fenprof revela outras conclusões. Entre os professores inquiridos, 94% consideram que o ensino à distância agrava as desigualdades e 93% consideram necessário, na organização do próximo ano letivo, ter em conta os défices deste ano, esclareceu Mário Nogueira.

Outra preocupação dos professores prende-se com os alunos com necessidades educativas especiais. “Cerca de 60% dos docentes consideram que o apoio que está a ser prestado fica aquém do adequado, o que decorre da impossibilidade de trabalhar diretamente com os alunos”, disse o sindicalista. “Confirma-se, assim, a necessidade de ser preparada uma resposta de apoio reforçado a estes alunos logo que eles regressem às escolas, alguns ainda este ano e a maioria no início do próximo ano letivo”.

Sobre o Estudo em Casa, a nova telescola, 54% dos professores inquiridos pela Fenprof consideram que apesar de ser um recurso positivo, tem insuficiências. “Essas dificuldades resultam do desajustamento entre os conteúdos apresentados e as aprendizagens já realizadas ou por realizar, problema que é agravado pelo facto de os conteúdos das aulas apresentadas não serem do conhecimento dos professores com o tempo necessário para uma adequada preparação da atividade com os alunos”, sublinhou Mário Nogueira.

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Na opinião da maioria dos professores, ressalvou ainda o secretário-geral da Fenprof, o ensino à distância tem um grau de exigência superior ao ensino presencial (66% das respostas), embora 20% tinha considerado que o grau de exigência é atualmente semelhante ao que já tinham.

Por último, Mário Nogueira sublinhou que apenas uma percentagem reduzida dos professores se sente apoiado pelo Ministério da Educação: “Relativamente ao apoio que têm sentido, os professores afirmam ser o Ministério da Educação quem lhes dá menos apoio. Só 19% refere sentir apoio da tutela, contrastando com os 65% que dizem ser apoiados pelas escolas e 57% pelos pais e encarregados de educação.”

Mário Nogueira anunciou ainda que a Fenprof pediu pareceres a peritos sobre a reabertura das aulas a 18 de maio, tendo-se dirigido a sete entidades, tais como o Instituto Ricardo Jorge, o Conselho Nacional de Saúde ou o Conselho de Escolas Médicas Portuguesas. Para já, ainda aguarda esses pareceres.

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“Caso esses pareceres admitam a calendarização prevista pelo Governo, a Fenprof acompanhá-la-á”, esclareceu Nogueira, referindo que, apesar disso, exigirá ao Governo um conjunto condições sanitárias como condição indispensável para que os estabelecimentos de ensino possam abrir e manter-se em funcionamento.