Abril foi “seguramente” o pior mês desde o início da pandemia para a atividade económica: trouxe quebras de atividade que lesaram a economia em 6,5 pontos percentuais e mais 75 mil desempregados face ao mesmo mês do ano passado. Os números foram revelados pelo ministro das Finanças, Mário Centeno, na noite desta quinta-feira, em entrevista à RTP.

Temos números do desemprego que mostram um aumento significativo. Estamos a falar do aumento do número de registados nos centros de emprego na ordem dos 75 mil a mais face a abril do ano passado”, disse o ministro.

Centeno frisou ainda que “a economia portuguesa estava numa trajetória bastante virtuosa de crescimento, de redução do desemprego, aumento do emprego, dos salários”, antes da pandemia, com o Instituto Nacional de Estatística (INE) a estimar uma quebra da taxa de desemprego para 6,4% em fevereiro (em todo o primeiro trimestre, ficou em 6,7%). “Pensamos que a taxa de desemprego até final de 2020 possa crescer 3 ou 4 pontos percentuais face ao que era a trajetória anterior”, estimou ainda Centeno. Ainda assim, “ligeiramente abaixo” de 10% [o que estará em linha com os 9,7% estimados pela Comissão Europeia nas previsões de Primavera].

Abril foi mês de estado de emergência, o que levou a quebras de atividade significativas, mas que afetaram os setores de forma diferente: desde “quebras superiores a 40% nos setores do comércio e retalho, que esteve praticamente fechado, a quebras mais reduzidas”, como as atividades financeiras, “que não excedem 10%”. “No conjunto, estas quebras de atividade em abril podem ter retirado ao PIB anual qualquer coisa como 6,5 [pontos percentuais] em 30 dias”, disse ainda. Segundo o ministro, “podemos estar a observar uma queda em termos nominais no PIB superior a 15 mil milhões de euros, em termos anuais”.

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Em maio, “estamos a ver mais atividade”. Nas estimativas do Governo, o terceiro trimestre vai ser “de forte recuperação, o quarto abrandará um pouco”. E tal como já tinha dito: “Prevemos que ao longo do ano de 2022, estejamos a recuperar os níveis de atividade de 2019”.

O ministro reiterou que a evolução que se prevê para a economia portuguesa nos anos de 2020 e 2021 está “totalmente em linha” com a da União Europeia, e até é “melhor do que a esmagadora maioria dos países” da UE. O ministro das Finanças refere-se à projeção da Comissão Europeia de que o PIB português vai contrair 6,8% em 2020 e recuperar 5,8% no ano seguinte.

Economia nacional cai 6,8% este ano mas recupera 5,8% em 2021, prevê Comissão Europeia

Mas Centeno fez uma ressalva: estes números têm “algo de especulativo”. “Não está aí considerado o impacto do Plano de Recuperação Económica que a Comissão Europeia tem que avançar nas próximas semanas”. Um plano, disse, que é crucial para a resposta que os países, no seu conjunto, vão ter de dar a esta crise”. Portanto, considerou o ministro, “temos ainda instrumentos de política a que devemos recorrer e que ainda não estão considerados. Não quero parecer otimista, mas quero dizer que esta crise, dada a sua incerteza, vai ter de ser vivida mês a mês”.

Portugal pode receber da UE mais de mil milhões de euros para financiar apoios a empresas e trabalhadores

Mário Centeno disse ainda que Portugal vai poder aceder a financiamento da União Europeia, num valor que pode ser superior a mil milhões de euros para apoios a empresas e famílias.

“Estamos numa fase de transição do programa de layoff, deixámos a fase mais dramática e vamos ter mais uns meses de planalto, mas já em redução. Portugal poderá aceder a este financiamento para financiar as medidas de mercado de trabalho que tem adotado”, como o layoff ou os apoios aos pais que estão em casa a acompanhar os filhos.

“Podíamos estar a falar de qualquer coisa que podia ser superior a mil milhões de euros, no conjunto. Esse valor pode ser financiado através deste programa da União Europeia [chamado ‘Sure’].”