“Daqui Londres. Sua Majestade, o Rei Jorge VI.” Foi assim que começou o Discurso da Rainha Isabel II, precisamente às 21h em ponto, passando a emissão da BBC do dia 8 de maio de 1945. De seguida, a imagem e a voz de Jorge VI aparecem, vindas do passado, pedindo para recordar “os homens e as mulheres” que não sobreviveram para assistir ao dia da rendição da Alemanha Nazi: “Chegámos ao fim da nossa tribulação e eles não estão aqui connosco no momento em que nos alegramos”, lamenta.
A imagem seguinte traz-nos de volta ao presente. Isabel II, a monarca de 94 anos que ocupa o trono há 68 anos, está sentada à secretária, algures no Castelo de Windsor. À sua direita, uma fotografia emoldurada do seu pai, Jorge VI. E, com um ligeiro sorriso, a Rainha começa o seu Discurso: “Falo-vos hoje à mesma hora que o meu pai falou, há 75 anos”.
"Never give up, never despair – that was the message of VE Day"
An address by Her Majesty The Queen on the 75th anniversary of VE Day #VEDay75 pic.twitter.com/prgBXCdRHF
— The Royal Family (@RoyalFamily) May 8, 2020
O que se seguiu foi uma mensagem curta, de menos de 5 minutos, mas pungente. Direta ao ponto, Isabel II recordou os que partiram na II Guerra Mundial, como o pai. Mas também recordou a alegria do Dia da Vitória, em que participou, e celebrou a conquista da paz na Europa como um bem que deve ser preservado. E, como era de esperar, soube coser delicadamente toda a emoção de um dia histórico com a situação atual que o Reino Unido (e o resto do mundo) atravessa, sem nunca ter de pronunciar as palavras “coronavírus”, “Covid-19” ou “confinamento”.
“Nunca desistir, nunca desesperar. Essa foi a mensagem do Dia da Vitória”, assinalou a Rainha, que recordou os eventos do dia:
Lembro-me das cenas de júbilo a que eu e a minha irmã assistimos da varanda, com os nossos pais e Winston Churchill”, disse, referindo-se ao momento eternizado em fotografia, em que uma sorridente e jovem Isabel II olha para a família (a Rainha Isabel, o Rei Jorge VI e a irmão, a Princesa Margarida), acompanhados pelo primeiro-ministro Winston Churchill, à varanda do Palácio de Buckingham.
Mas apesar evocação das memórias felizes, Isabel II não teve medo de enveredar pelo caminho mais sério, de recordar os que morreram, à semelhança do que fez o seu pai, há 75 anos.
O conflito no extremo oriental só acabaria em agosto e aí a Guerra finalmente acabou. Muitos morreram para que pudéssemos viver em paz, no nosso país e noutros”, lembrou, já depois de ter referido no início do discurso que esta foi uma guerra “total” que afetou “todos”.
“Eles arriscaram tudo para que as nossas famílias e vizinhos pudessem estar seguros. Devemos e iremos recordá-los”, afirmou.
A melhor forma de “prestar homenagem àqueles que não regressaram da Guerra”, acrescentou, “é garantir que não se repetirá nunca mais”. O melhor “tributo”, reforçou, é “ter países que outrora foram inimigos a trabalhar agora lado a lado”.
Antes de encerrar o discurso evocativo deste Dia da Vitória, Isabel II não quis deixar de se referir ao presente, sem recorrer às comparações do combate à Covid-19 com a II Grande Guerra. Em vez disso, preferiu transmitir uma simples mensagem de esperança: “Hoje pode parecer duro o facto de não podermos assinalar esta data como desejaríamos. Mas as nossas ruas não estão vazias, estão cheias do amor e do carinho que temos uns pelos outros”.
Era a deixa para que os britânicos se juntassem à homenagem planeada, para que se reunissem à porta de casa e cantassem We’ll Meet Again [Voltaremos a Encontrar-nos], a canção de Vera Lynn que marcou a geração que atravessou a II Guerra Mundial e que assegura a todos que é possível ultrapassar tudo — e muitos fizeram-no, como comprovam alguns dos vídeos que circulam nas redes sociais.
Residents of New Road in Llanelli gather outside the Ashley Court nursing home to sing We’ll Meet Again.
No rehearsal.
Straight in.
Musical director Alex Esney of @corllanelli @cor_curiad fame! pic.twitter.com/XGxzstxN26— Robert Lloyd (@rlloydpr) May 8, 2020
“Ainda somos a nação que aqueles corajoso soldados, marinheiros e pilotos reconheceriam e admirariam”, rematou a monarca. E, por fim, a despedida: “Envio os meus melhores cumprimentos para todos”. Curta e simples, porque a Rainha quer que os britânicos confiem que se voltarão a encontrar com ela — e uns com os outros — brevemente.