O mundo esteve fechado em casa e uma boa parte dele continua a ter de se entreter entre quatro paredes, razão pela qual Sara Soares, uma stylist portuguesa de 32 anos, decidiu desafiar-se, em primeiro lugar, e depois aos outros a explorar a criatividade com as ferramentas que tinha mais à mão. Como? Criando produções dignas de uma revista de moda. Sob mote de viver mais a própria casa, começou a juntar roupa, objetos inusitados e até lixo para criar imagens com cor e potencial artístico.

Homewerkit nasceu como perfil de Instagram a 23 de março e a publicação inaugural foi aquela fotografia em que decidiu subir para cima da cama, vestir-se de amarelo, vermelho e azul elétrico e carregar na maquilhagem. O desafio chegou longe e a página soma já 150 imagens de produções caseiras.

“Estava a precisar de ocupar o meu tempo. Dei por mim um bocado ansiosa, a questionar o que é que ia ser o futuro. Precisava de um projeto que me puxasse pela criatividade, mas que também fizesse bem aos outros. Além disso, estamos a criar imagens memoráveis, para recordar daqui a uns anos como foi este momento”, explica Sara ao Observador.

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“Para dar o exemplo, comecei a fazer eu própria algumas imagens e comecei a publicar”, recorda. Atualmente, já não está sozinha. Com as designers (e amigas) Ana Pedro e Ana Rita Teodoro forma uma espécie de comité. São elas a responsáveis pela curadoria das fotografias, ou seja, por escolher as realmente espantosas das dezenas que têm sido enviadas. Algumas resultam de desafios lançados a amigos e colegas de trabalho, outras são iniciativas espontâneas e já têm chegado de Itália, do Reino Unido e até do Brasil.

“Comecei a falar com pessoas da área. Algumas são de moda, outras das artes plásticas, outras nem tem nada a ver com as áreas criativas e fazem coisas incríveis. Ao juntar tanta gente diferente, a página acaba por funcionar também como uma rede para divulgar o trabalho de outros stylists, maquilhadores, modelos…”, refere Sara.

Entre as contribuições mais memoráveis estão a de Raquel Laranjo, a maquilhadora que se pintou com o padrão do próprio edredão, ou a de Marie, a influenciadora campestre que tem um cordeiro como animal de estimação. “As pessoas esforçam-se. A ideia é precisamente essa — pegares numa panela e fazeres dela outra coisa. E nem precisas de mais ninguém, usas o temporizador. Nessa parte, sinto a voltar aos tempos do Hi5 e do Fotolog”, acrescenta.

Com o desconfinamento já em marcha, Sara não perde o projeto de vista. Ela própria começa agora a retomar o trabalho, com o lento arranque de produções de moda e campanhas. O objetivo é continuar, até porque, isolados ou não, a nossa casa será sempre um estúdio fotográfico cheio de potencial. Com quase 1.500 seguidores, quem sabe se não está na altura de o Homewerkit dar os primeiros passos na rua — se bem que alguns já arriscaram. Um dia, as melhores imagens ainda vão dar um livro.