Depois de uma quarta e quinta-feiras agitadas, com uma quase demissão em cima da mesa pelo meio, Mário Centeno voltou na sexta-feira ao “business as usual”, desta vez na pele de presidente do Eurogrupo.

Num curto vídeo divulgado na sua conta do Twitter, Centeno lança a reunião desta sexta-feira do Eurogrupo, mas começa logo pelas críticas. E para dizer que os que criticam o trabalho dos ministros das Finanças europeus no órgão que dirige “estão errados”.

“Na política nacional, a Europa é, algumas vezes, acusada de ‘arrastar os pés’ e, para os leigos, de não entregar. O nosso trabalho no Eurogrupo está a provar que estes críticos estão errados”, conclui Centeno, que ainda há dias esteve sob fogo numa peça do jornal alemão Frankfurter Allgemaine Zeitung por, segundo fontes diplomáticas, ir para estas reuniões mal preparado.

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E por que razão diz Centeno que o Eurogrupo está a provar que os críticos estão errados? Porque, recorda o ministro das Finanças português, “há um mês acordámos no Eurogrupo as características-chave de uma rede de segurança de 540 milhões de euros para a Zona Euro”.

O plano aprovado pelo Eurogrupo, com as três redes de segurança (Empresas, Famílias e Estados) ainda não está em marcha e nenhum Estado-membro consegue neste momento aceder aos mecanismos.

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E poderá não ser ainda estar sexta-feira que estará concluído. Pelo menos é o que deixam transparecer as palavras de Centeno: “Hoje, estamos prestes a reforçar esse acordo e avançar em todos os elementos desse plano”. Avançar em todos os elementos, não concluir.

Ainda assim, Centeno salienta que o Eurogrupo pode dizer que cumpriu a promessa de “injetar esses recursos nas economias, melhorando as ferramentas que cada Estado-membro tem ao seu dispor para combater esta crise”.

Este plano constitui, segundo Centeno, a parte de leão da resposta europeia à emergência, ao mesmo tempo que “lança as bases para uma discussão estratégica acerca da recuperação”. E esta fase da recuperação está ainda mais atrasada.

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Centeno explica. “O Eurogrupo já concordou com algumas características-chave do Fundo de Recuperação” e “a Comissão Europeia já identificou necessidades claras de investimento nas suas previsões”.

Ao contrário do que foi anunciado pelo primeiro-ministro português, António Costa, a 23 de abril – bem como outros ministros europeus, como o italiano Giuseppe Conte ou o espanhol Pedro Sánchez – a Comissão Europeia não apresentou uma proposta para este Fundo de Recuperação até 6 de maio. A presidente da Comissão, a alemã Ursula Von der Leyen, disse depois que a proposta surgiria na segunda ou terceira semana de maio. A terceira semana de maio termina no sábado de 23 de maio.

Centeno diz agora que o executivo europeu “vai apresentar uma proposta nas próximas semanas”, sem mais detalhes.

“Trabalhando nesse quadro, hoje vamos focar-nos em quais deverão ser as principais prioridades estratégicas para o plano da UE e as áreas-chave de cooperação entre as políticas nacionais. Também vamos discutir a forma de melhor desenhar e dirigir o Fundo de Recuperação para dar um impulso às nossas políticas nacionais e proteger o mercado comum”, sublinha o ministro português.