Prometeu visitar Ovar “logo que possível” e assim fez esta sexta-feira. O destino não foi escolhido ao acaso num mapa de Portugal repleto de concelhos onde o novo coronavírus entrou e teima em ficar. Marcelo Rebelo de Sousa descolou em Sintra num avião C-295 e aterrou na base aérea de Ovar, depois de 40 minutos no céu. Ao chegar, o Presidente da República foi recebido com pompa e circunstância. À sua espera estava Rui Rio, líder do PSD, e o autarca social democrata, Salvador Malheiro.
Testava-se o som do microfone, que cruzava com o barulho de talheres vindos da sala onde o almoço a três iria decorrer, e à falta de cumprimentos de mão a conversa focou-se essencialmente na viagem. Após elogios à Força Aérea, Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou a receção pomposa para homenagear Salvador Malheiro, presidente da câmara municipal de Ovar. “Foi um herói, acompanhou a par e passo, dia a dia” todas as fases desta pandemia. “Nunca desistiu, nunca se resignou, teve uma coragem inimitável”, acrescentando que “descobriu testes e máscaras onde não existiam e proteção sanitária sabe se lá onde”.
Ovar foi o primeiro município do país a entrar em estado de calamidade, tendo uma cerca sanitária entre 17 de março a 17 de abril. “Foi a cerca sanitária mais duradoura, mais penalizada e mais resistente”, recordou Marcelo.
Mas as palavras com mais impacto político estavam reservadas para Rui Rio. O Presidente já tinha feito saber que este encontro ia acontecer, sobretudo numa semana em que o aparente apoio de Costa a uma recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa continua a dar que falar. Marcelo não quer ficar colado ao PS e vai daí fez “um agradecimento nacional” ao líder do PSD. “O seu papel foi exemplar”, diz o chefe de Estado sobre o principal líder de oposição, referindo-se ao facto de este colocar o interesse nacional em primeiro lugar num período crítico, onde o seu sentido de Estado foi “essencial”.
Recordando o seu passado também como oposição do Governo, durante o período do Euro, Marcelo Rebelo de Sousa não tem dúvidas que ser líder da oposição “é mais difícil do que ser Primeiro-Ministro”. “Não conseguia fazer o que ele fez”, admite o presidente.
Tal como acontece com António Costa, Marcelo sublinha que a convivência com Rui Rio é igualmente “harmoniosa” e que se um dos grandes trunfos do país foi a união, então Rio contribuiu, e muito, para que ela acontecesse. Ainda assim, o presidente recorda que o estado de emergência não suspendeu a democracia e nas soluções para futuro em retomar a economia há, naturalmente, “visões diferentes”.
Se o assunto das eleições presidenciais seria tema em cima da mesa durante o almoço, seja na entrada ou na sobremesa, Marcelo diz que isso seria “um desperdício”, uma vez que prefere falar do que é “urgente e prioritário”, como o emprego ou o rendimento dos portugueses, deixando claro que “o resto tem o seu tempo e o seu momento”.
Rio tomou a palavra para dizer o que não trouxe ordens de trabalho para a mesa do almoço e que também “a seu tempo” o PSD abordará o assunto. “A vida ensina a fazer uma gestão correta do tempo”, afirmou, escusando a criticar diretamente o timing de Costa ao relançar Marcelo para a corrida das presidenciais na semana passada, durante a visita à Autoeuropa.
O líder laranja mostrou alguma preocupação com a situação futura da TAP, ambicionando uma “solução equilibrada”, e alertou para o alívio próprio desta fase de desconfinamento, sublinhando que, apesar de as coisas estarem a correr bem, os portugueses devem ser contidos para evitar que em outubro e novembro exista uma segunda vaga da doença Covid-19.