Itália vai começar esta semana a recrutar 60.000 voluntários para controlarem o cumprimento das regras de segurança na “fase dois” de desconfinamento, em que se registaram aglomerações de dezenas de pessoas sem máscaras nem distância social.

Esses “assistentes cívicos”, recrutados entre desempregados e beneficiários do rendimento mínimo, vão ter como missão dar informação sobre as regras na situação em que a distância física não esteja a ser respeitada, precisa uma nota do Ministério dos Assuntos Regionais.

No fim de semana, suscitaram indignação em Itália imagens de aglomerações, designadamente em Roma e em Nápoles, sobretudo de jovens, sem qualquer respeito pelas regras definidas para evitar a propagação do novo coronavírus.

Responsáveis políticos locais e regionais pediram responsabilidade aos cidadãos e alertaram para um possível novo surto, naquele que é um dos países do mundo mais afetado pela pandemia associada à Covid-19.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em Perugia (centro), as autoridades locais ordenaram no sábado o encerramento dos estabelecimentos do centro histórico à noite e em Rimini (norte) foi anunciada medida semelhante se voltarem a registar-se aglomerações deste tipo.

O ministro dos Assuntos Regionais, Francesco Boccia, precisou numa entrevista esta segunda-feira publicada pelo jornal La Stampa que os voluntários usarão um distintivo da Proteção Civil e começarão a trabalhar em meados de julho e até ao final do verão.

Nesta nova fase, eles vão facilitar o controlo do acesso aos parques e mercados, contando o número de pessoas que entram e saem, e explicar as regras de acesso às praias quando elas reabrirem”, disse.

Para poder atuar, os “assistentes cívicos” usarão “a força de persuasão da razão e do sorriso”, disse o ministro, adiantando que se se depararem com reações violentas deverão chamar a polícia municipal.

Além destas ações, os voluntários colaborarão com as autoridades locais na assistência aos mais vulneráveis, como levar compras a casa de idosos ou doentes.

A iniciativa, do Ministério dos Assuntos Regionais e da Associação de Municípios de Itálai (ANCI), já mereceu críticas de vários quadrantes.

“Como é que se pode pensar que 60.000 pessoas escolhidas não sabemos como, formadas não sabemos como, vão percorrer o país a dizer aos italianos o que devem fazer com base em regras que ninguém compreende? Isso é normal e legítimo num país democrático?”, questionou o ex-ministro e líder do pequeno partido Azione, Carlo Caneda.

“Não precisamos de assistentes cívicos. Precisamos de ministros que sejam ministros”, disse Matteo Orfini, deputado e ex-presidente do Partido Democrático (PD, no poder).

“Contratar um número excessivo de assistentes cívicos sem qualquer competência para controlar o nosso modo de vida? É bom viver na RDA” [a antiga Alemanha de Leste], ironizou Anna Maria Bernini, dirigente da Forza Italia, o partido de Silvio Berlusconi.

A pandemia associada à Covid-19 já fez quase 33.000 mortos em Itália, um dos países mais atingidos.