O poeta, tradutor e ator Manuel Cintra, autor de livros como “Do lado de dentro” e “Alçapão”, morreu em Lisboa, aos 64 anos, disse esta quinta-feira à agência Lusa fonte próxima da família.

De acordo com a escritora Maria Quintans, Manuel Cintra morreu em casa, no Bairro Alto, onde residia sozinho, presumivelmente durante o fim de semana. “Ele foi encontrado em casa sem vida na terça-feira”, acrescentou a amiga do poeta, que sofria há algum tempo de “graves problemas cardíacos, e terá dado uma queda”.

O corpo de Manuel Cintra foi levado para o Instituto de Medicina Legal.

Filho do linguista Luís Filipe Lindley Cintra e irmão do ator e encenador Luís Miguel Cintra, Manuel Cintra nasceu em Lisboa, em março de 1956.

Foi tradutor, jornalista, ator e encenador, sendo, no entanto, a poesia “a sua incontornável e apaixonada estrada”, sublinhou a poeta e dramaturga Maria Quintans. “Ele era um grande poeta, mas foi muito marginalizado porque não alinhava com o sistema”, disse ainda a escritora.

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De acordo com Maria Quintans, com base em indicações da família, não haverá velório, e o funeral será anunciado em breve.

Manuel Cintra começou a publicar poesia em 1981, com o livro “Do Lado de Dentro”, na Editorial Presença, a que se seguiram mais de duas dezenas de obras. “Tangerina” (1990), “Borboleta” (2006), “Alçapão” (2009), “Marie” (2009), “Receber a Poeira” (2014), “Parto” (2014), “Peixa” (2016) são algumas das que publicou.

A editora Guilhotina publicou “Manobra Incompleta” em 2017, reunindo toda a poesia de Manuel Cintra.

Geralmente escrevo o poema já pronto, quase sem correções. Faço os possíveis por não enlouquecer. Como sabemos, a poesia é uma arma, neste caso visceral. Sempre no limite. Sempre numa nova manobra. A evitar o acidente. Ou a vivê-lo a fundo”, costumava dizer o escritor, citado por Maria Quintans.

Além de poeta, foi também tradutor e ator, tendo participado em várias produções do Teatro da Cornucópia.

Ministra da Cultura relembra “um autor com uma voz própria, consciente e voluntariamente marginal”

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou esta quinta-feira a morte do poeta de 64 anos.

Num comunicado esta quinta-feira divulgado, Graça Fonseca recorda que, “com um percurso de quarenta anos ligado à literatura, Manuel Cintra foi tradutor, mas também ator e encenador — algo que os seus textos não deixavam de evidenciar, bem como na forma como os lia nas sessões de poesia em que frequentemente participava”.

“Foi, aliás, na poesia que melhor se destacou, como um autor com uma voz própria, consciente e voluntariamente marginal e admirada por muitos dos seus pares”, refere a ministra, que envia “sentidas condolências” à família e amigos de Manuel Cintra.