“Pelos dados que temos, parece ser raro alguém sem sintomas poder passar o vírus a outra pessoa. É muito raro“. Foi a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) que o disse, para horas depois esclarecer que, na verdade, a afirmação foi um “mal entendido”.

O comentário, citado pela CNBC, surgiu numa conferência de imprensa nas Nações Unidas. Maria Van Kerkhove, líder da área de doenças emergentes da OMS, comentou que embora seja possível alguém sem sintomas aparentes poder transmitir a doença, não são essas pessoas que estão a ser os principais agentes de transmissão, a nível mundial. Mais tarde esclareceu que foi um  “mal-entendido afirmar que, globalmente, a transmissão assintomática é muito rara”, disse Maria Van Kerkhove, citando estudos que sugerem que 40% das infeções podem ser transmitidas por pessoas sem sintomas.

No momento das primeiras declarações, a responsável técnica da Organização Mundial da Saúde sublinhou que é preciso mais informação para “verdadeiramente responder a esta questão”, mas “temos vários relatórios vindos de países que estão a fazer um trabalho muito detalhado no seguimento dos contactos; estão a seguir os contactos e não estão a encontrar muita transmissão secundária” por parte de pessoas sem sintomas que, ainda assim, testam positivo ao novo coronavírus. “É muito raro isso acontecer“, afirma a responsável da OMS, notando, porém, alguns estudos em lares e famílias onde isso poderá ter acontecido.

Maria Van Kerkhove defendeu ainda que os esforços das autoridades de saúde devem ir, principalmente, no sentido de isolar indivíduos com sintomas e detetar os seus contactos próximos.

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As medidas de confinamento generalizado, um pouco por todo o mundo, foram justificadas precisamente pela convicção de que haveria um grande “potencial de transmissão pré-sintomática”, como determinaram, por exemplo, as autoridades de saúde norte-americanas. Ainda assim, uma equipa do Imperial College de Londres e da Universidade de Oxford não tem dúvidas: as medidas de confinamento, e outras medidas preventivas impostas pelos vários países, reduziram a transmissão do vírus e pouparam milhões de mortes.

O estudo, publicado na revista Nature, analisou os dados de 11 países e verificou que só aí terão morrido menos 3,1 milhões de pessoas do que esperado, até 4 de maio, quando se iniciou o desconfinamento.

Estudo em 11 países diz que confinamento terá evitado mais de três milhões de mortes

Especialistas surpreendidos com declarações da OMS

Liam Smeeth, professor de epidemiologia clínica na London School of Hygiene and Tropical Medicine, admitiu ter ficado “bastante surpreendido” com as declarações de Maria van Kerkhove nesta segunda-feira. Admitindo desconhecer os dados a que a responsável se referiu, o especialista disse à Reuters que estes vão contra as suas “impressões” e com as evidências que, até agora, a ciência tem recolhido.

“A ciência tem sugerido que os assintomáticos, que nunca têm sintomas, e os pré-assintomáticos são uma fonte importante de infeção para os outros”, afirmou o professor na London School of Hygiene.

Keith Neal, professor de epidemiologia das doenças infecciosas na University of Nottingham, afirmou à mesma agência de notícias que, apesar de não se saber ao certo que papel os assintomáticos desempenham no ciclo de transmissão da Covid-19, é certo que as pessoas com sintomas são responsáveis pela maioria dos casos. Por essa razão, o especialista instou todos os indivíduos com sintomas a tomarem as devidas precauções.

“Isso reforça a importância da realização de testes por parte de todas as pessoas com sintoma”, disse , apelando que quem se encontra nesta situação o faça “o mais depressa possível” e se isole “até receber o resultado”.

Artigo atualizado às 18h31 com o esclarecimento de Maria Van Kerkhove