Antonio Cañizares, cardeal espanhol e arcebispo de Valência, apontou o dedo a uma investigação de uma vacina para a Covid-19 que “se fabrica à base de células de fetos abortados”. A frase, como avançou o El País, foi dita este domingo pelo clérigo durante a homilia da missa do Corpo de Deus.

O diabo existe em plena pandemia, tentando levar a cabo investigações para vacinas e curas. Encontramo-nos com a dolorosíssima notícia de que uma das vacinas é feita a partir de células de fetos abortados. Tão claro como isso”, disse Cañizares.

De acordo com o padre católico, “isso é desumano, cruel e, antes disso, não podemos elogiá-lo ou abençoá-lo, muito pelo contrário”. E continuou: “Somos a favor do Homem, não contra o Homem. Primeiro ele é morto com um aborto e depois é manipulado. Ah bem, que bom! Não. Temos mais uma desgraça, o trabalho do diabo”.

Durante a mesma homilia, o Cardeal, que costuma ser associado a um setor mais conservador da Igreja Católica em Espanha, pediu que um retorno à normalidade “recupere o que mais precisamos, o sentido de Deus que perdemos, o de adoração, o de sermos irmãos”.

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Segundo a arquidiocese de Valência, estiveram presentes nesta celebração representantes municipais e a Catedral onde decorreu estava “cheia” a 50% devido às regras impostas pela pandemia de Covid-19.

O cardeal afirmou ainda que a “a Igreja é Eucaristia, é amor, não é uma ONG [Organização Não Governamental], como às vezes apresentamos a Igreja, as obras de caridade não são apenas mais uma obra, é a própria Igreja, a presença de Deus, Amor, caso contrário fazemos dela uma ONG, secularizamo-la, pois os poderes desta sociedade querem que ela assim o seja”.

Este episódio motivou críticas ao cardeal de 74 anos. No passado, o clérigo já tinha sido acusado por outras afirmações que foram consideradas polémicas pela imprensa espanhola ao dizer que a “família cristã” está ameaçada pelo “império gay e certas ideologias feministas”.

Devido às declarações de Cañizares durante a homilia a arquidiocese de Valência viu-se obrigada a clarificar qual o estudo referido pelo padre, um artigo publicado pela revista Science. Nesse comunicado inserem-se os esclarecimentos do arcebispo, que cita as críticas que têm sido apontadas por mais padres católicos noutros países a investigações que utilizam células de fetos abortados.

A única coisa que acrescentei é que, de acordo com as informações publicadas, parece que existem mais de cem linhas de investigação e que, entre essas cem, há uma que estará a ser produzida com métodos que abrem dilemas éticos; portanto, se essas publicações forem verdadeiras, uma vez que existem mais de 130 linhas de pesquisa, é desejável que essa vacina seja alcançada e produzida sem abrir dilemas éticos para sua produção ”, esclareceu.

No mesmo comunicado, o cardeal Cañizares afirma que “desde o início da pandemia”, reza para que seja “encontrada uma vacina para ajudar a curar e até prevenir o Covid-19”. Algo que, diz, tem “afirmado repetidamente”.