A ideia de fundar a Associação Portuguesa de Enoturismo (APENO) surgiu no final do ano passado com a missão de formalizar o setor do turismo em torno do vinho, diz Maria João de Almeida ao Observador. A pandemia abrandou os planos, mas não os travou por completo: a entidade está agora a poucos dias do lançamento online, marcado para 9 de julho, que vai contar com a presença dos presidentes do Instituto da Vinha e do Vinho e da ViniPortugal, mas também de Lídia Monteiro (Turismo de Portugal) e do secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural.

Maria João de Almeida — que ao currículo acrescentou o cargo de presidente da APENO às valências de wine writer e consultora de vinhos — não está sozinha no projeto e faz-se acompanhar de uma equipa multidisciplinar de maneira a que seja possível prestar aconselhamento económico, financeiro e jurídico aos associados (sejam eles empresas ou profissionais liberais com atividades que possam ser consideradas enoturismo).

“Notámos que havia uma lacuna em Portugal e também no estrangeiro: o enoturismo não existe enquanto setor constituído formalmente”, salienta Luís Sá Souto, economista e vice-presidente da associação. Considerando a junção dos setores do vinho, do turismo e dos serviços prestados a empresas — que num todo representam 9% do PIB —, a APENO estima que o enoturismo possa contar com 60 mil agentes económicos, 410 milhões de euros enquanto volume de negócios e empregos diretos e indiretos para 100 mil pessoas.

“O nosso setor pode aumentar as exportações, trazer para cá pessoas que façam práticas de enoturismo e que levem lá para fora as nossas marcas. Há estudos europeus que indicam que o enoturismo pode aumentar em 20% as exportações”, continua Luís Sá Souto.

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Em fevereiro último, a Agência Lusa reportou que as exportações vitivinícolas portuguesas tinham aumentado 0,3% em 2019, para cerca de 296 milhões de litros, face a igual período do ano passado, sendo que em valor subiram 2,5%, para cerca de 820 milhões de euros. Números que em 2020 estão certamente a ser afetados pela pandemia — já antes Bernardo Gouvêa, presidente do IVV, explicou ao Observador que poderá ser expectável uma “quebra significativa até ao final do ano, na ordem dos 25% a 30%” nas vendas globais de vinho em Portugal.

A pandemia contagiou as vendas, mas não parou a indústria. No vinho também se contra-ataca

Também a pensar nisso, uma das primeiras tarefas a desempenhar pela APENO será fazer um estudo sobre a realidade do enoturismo no país num cenário pós-Covid-19, de maneira a conhecer as dificuldades que o setor atravessa. Mas no plano de atividades constam muitas outras propostas, como wine-talks com convidados de referência, formações em enoturismo, criação de uma bolsa de emprego e até um clube dedicado aos enoturistas.

“Queremos trabalhar em parceria com toda a gente [incluindo associações de entourismo internacionais]. Não queremos fazer um caminho sozinhos, por isso é que convidámos todas as comissões vitivinícolas regionais para o conselho consultivo”, diz ainda Maria João de Almeida. “Até agora nenhuma associação a nível mundial conseguiu ou fez a construção de um setor. Queremos revolucionar o setor ao profissionalizá-lo e legalizá-lo. Somos os primeiros no mundo a tentar.”

Deste caminho faz parte a tentativa de definir legalmente o conceito de enoturismo, que carece de alguma especificação — até à data, esclarece Maria João de Almeida, é a Carta Europeia do Enoturismo que serve de orientações para os fundamentos e objetivos do setor.

Numa fase inicial a APENO vai viver das quotas dos associados, sendo que eventos e subsídios específicos farão parte das contas no futuro. Apesar de terem “dados na cabeça”, é prematuro avançar com um número inicial de associados, até porque as inscrições ainda não começaram formalmente.