Os números divulgados pelo INE em fevereiro deste ano confirmaram uma tendência que vinha a consolidar-se desde 2013: no ano passado, os britânicos voltaram a representar a maior fatia das dormidas de turistas estrangeiros em Portugal. Entre todos os viajantes vindos de outros países, representaram 19,2% das dormidas.
O valor das receitas que geraram — quase 3,3 mil milhões de euros — não ajuda só a explicar o empenho do Governo português, nas últimas semanas, em convencer as autoridades políticas do Reino Unido a manter o país fora da lista negra das viagens. Também traduz o impacto que as restrições agora impostas poderão ter num setor que esperava que o desconfinamento e a abertura das fronteiras compensasse os meses do estado de emergência.
Reino Unido voltou em 2019 a ser principal mercado emissor de turistas para Portugal
É certo que os britânicos não ficaram proibidos de viajar para Portugal, mas, se o fizerem, terão de cumprir, no regresso, uma quarentena obrigatória. E isso, previsivelmente, será suficiente para levar a esmagadora maioria a procurar outros destinos. Essa mudança na agulha da bússola até já começou: Espanha e Grécia poderão ser os países mais beneficiados com os turistas que vão deixar de vir, sobretudo, para o Algarve.
O sul será, por isso, a região mais afetada. A Madeira é o segundo destino preferido dos britânicos em Portugal, mas, tal como os Açores, ficou fora da “lista negra”. O Reino Unido considerou que, ao contrário do continente, as regiões autónomas podem ser incluídas no grupo de regiões com baixo risco de contágio da Covid-19. Ainda assim, a quarentena obrigatória de 14 dias também se aplica.
Queda nas dormidas, nas viagens e na receita
2,2 milhões
Número de dormidas de turistas britânicos em hotéis portugueses apenas nos meses de julho e agosto de 2019
Se olharmos apenas para os meses de julho e agosto do ano passado, percebe-se que a perda, este ano, pode ser significativa. Apenas nesses dois meses de 2019, o número de dormidas de britânicos em Portugal chegou quase aos 2 milhões e 200 mil (2.170.269). Foi esse o número de noites em unidades hoteleiras reservadas por quase meio milhão de turistas vindos do Reino Unido, segundo dados provisórios do INE.
19,2%
Percentagem de turistas britânicos no total das dormidas de turistas estrangeiros em Portugal no ano passado
No total anual, 2019 até representou um crescimento na presença do turismo britânico: foram, no total, 2,1 milhões (mais 5,9% que em 2018, depois de uma queda nesse ano), responsáveis por 9,4 milhões de dormidas (mais 1,5% que o ano anterior).
Essa subida fez com que, mais uma vez, os viajantes vindos do Reino Unido representassem a maior fatia das dormidas do turismo estrangeiro em Portugal, 19,2%. No segundo lugar vem a Alemanha com 5,9 milhões de dormidas e, em terceiro, Espanha com 5,2 milhões.
3.300 M€
Receita total gerada em 2019 pelo turismo britânico em Portugal
As quase 10 milhões de dormidas em unidades hoteleiras portuguesas contribuíram para que a receita turística gerada fosse significativa. Segundo dados do Banco de Portugal, citados num relatório do Turismo de Portugal, os turistas britânicos geram 3 mil 286 milhões de euros em 2019, uma subida de 7,9% em relação ao ano anterior.
Fizeram-no, sobretudo, no Algarve (com 63,4% das dormidas de viajantes do Reino Unido), mas também na Madeira (18,5%) e na Área Metropolitana de Lisboa (10,8%).
695
Número médio de ligações áreas semanais durante o verão de 2019 entre Portugal Continental e o Reino Unido
O facto de Portugal não ter sido colocado na lista de países de baixo risco de contágio, passando a integrar, pelo contrário, uma espécie de lista negra definida pelo governo britânico, terá um impacto significativo também nas ligações aéreas.
Se olharmos para os números da época alta do ano passado, disponibilizados pela ANA – Aeroportos de Portugal e analisados pelo Turismo de Portugal, a média semanal de ligações aéreas entre o Reino Unido e os aeroportos de Faro, Lisboa e Porto chegou quase às 700.
O aeroporto de Faro tem a maior quota, com 402 ligações semanais ao Reino Unido nos meses de abril a outubro. De e para Lisboa foram 212, enquanto que, com partida e chegada ao Porto, foram 81 voos. No total, em 2019, desembarcaram em Portugal 4,5 milhões de passageiros em voos vindos de aeroportos britânicos, independentemente da sua nacionalidade.
As alternativas mais procuradas
145%
Aumento das pesquisas feitas por britânicos no site de viagens LastMinute.com para férias em Espanha e na Grécia
Até ao último minuto, a inclusão de Portugal nas listas de países com ou sem restrições era uma das maiores dúvidas, destacada até pela imprensa do Reino Unido. Mas mesmo sem essa confirmação, que chegou esta sexta-feira, os planos dos britânicos já estavam a seguir outras direções.
Segundo o The Telegraph, na última semana dispararam as pesquisas por viagens, hotéis e pacotes de férias, sobretudo de britânicos à procura das praias da Europa. Nas pesquisas feitas no site LastMinute.com, dois destinos surgem à cabeça: Espanha e Grécia cresceram 145%, seguidas de França, com um aumento de 138%.
É certo que não são todas já para o verão. As buscas no servidor de viagens também aumentaram nas partidas programadas apenas para janeiro ou fevereiro, algo pouco habitual nesta altura do ano e que mostra ainda algum receio por causa da pandemia e o adiamento dos planos de férias.
Não há dados sobre o que procuram exatamente os britânicos nesses países, em termos de alojamento, mas é possível ter uma ideia do que procurariam em Portugal, olhando para os dados de 2019. No ano passado, quase metade dos turistas do Reino Unido optaram por hotéis — e, dentro desses, 87% procuraram unidades de 4 ou 5 estrelas. A maioria dos restantes ficou em aparthotéis ou apartamentos turísticos.
(Artigo corrigido às 19h13 com a indicação de que a quarentena obrigatória no Reino Unido também se aplica às regiões autónomas)