O assunto de momento até pode ser o investimento de 1.200 milhões de euros do Estado na TAP, mas a agenda do próximo ano terá também um dia assinalado como importante para a política nacional, a eleição do próximo Presidente da República. Se o episódio na Autoeuropa, em maio, já estava esquecido na cabeça de alguns, Pedro Nuno Santos rejeitou esta noite a ideia de que o primeiro-ministro socialista lançou a recandidatura do social-democrata Marcelo Rebelo de Sousa. E foi mais longe: disse que votará num dos candidatos do Bloco de Esquerda ou do Partido Comunista Português — caso o PS não tenha nenhum candidato —, mas nunca num candidato da direita, como seria o caso de Marcelo Rebelo de Sousa.

“Eu nunca apoiarei um candidato da direita. Não havendo um candidato do meu partido votarei num dos candidatos do PCP ou do BE”, afirmou o ministro das Infraestruturas. “Respeito muito o senhor Presidente da República, mas sou socialista, não passei a ser de direita nem Marcelo Rebelo de Sousa da esquerda”, disse, escusando-se a fazer comentários sobre uma eventual candidatura de Ana Gomes apoiada pelo Partido Socialista, ainda que tenha dito que considera que “deve haver sempre um candidato da área do PS”.

Não foi apenas desta vez que o ministro das Infraestruturas se referiu aos ex-parceiros da “geringonça” durante a Grande Entrevista, na RTP3. Fez questão de deixar claro, aliás, a importância do Bloco de Esquerda e do PCP na aprovação de orçamentos e de não esconder “a tristeza” com que recebeu a nega que o PCP deu ao Orçamento Suplementar.

“O PS, no que me diz respeito, tem de fazer o esforço sério para conseguir recuperar a confiança do PCP e manter a confiança do BE no próximo Orçamento do Estado”, disse Pedro Nuno Santos, avaliando o trabalho feito na anterior legislatura pelos dois ex-parceiros. “Também estiveram a trabalhar por Portugal, preocupados com o país e as melhores soluções”.

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“Um orçamento apoiado pelo PSD não é igual a um orçamento apoiado pelo PCP ou pelo BE. O PS não existe apenas para estar no governo, existe para governar e transformar Portugal num determinado sentido. Fazermos um acordo para termos um orçamento aprovado à esquerda ou à direita são coisas diferentes e um orçamento apoiado à esquerda será sempre melhor”, apontou ainda o ministro das Infraestruturas.

Despedimentos na TAP? “Estaríamos a mentir-nos a todos nós e a enganarmo-nos se disséssemos que não vão acontecer”

Em junho, Pedro Nuno Santos dizia que os despedimentos “não têm de ser inevitáveis” durante a reestruturação da TAP, mas no dia em que a Assembleia da República votou o Orçamento Suplementar Costa avisava: “que não haja ilusões”. Pedro Nuno Santos registou o recado e afinou o discurso: “Podemos garantir postos de trabalho a todos os trabalhadores da TAP? Não”

“Estaríamos a mentir-nos a todos nós e a enganarmo-nos” [se disséssemos que não haveria despedimentos]. Não temos operação nem se perspetiva que venha a ter nos próximos anos para justificar a dimensão que a TAP tem. Podemos fazer este trabalho com respeito pelos trabalhadores, podemos não, temos obrigação de o fazer e é isso que vamos fazer com os sindicatos que têm de participar neste processo, não podem ficar só a assistir”, disse Pedro Nuno Santos.

Sobre o investimento de 1.200 milhões de euros, o ministro disse que “muita gente disse que era muito”, mas que “poucos apontaram soluções” e que a perda para os cofres do país seria muito maior se se tivesse optado por outro caminho.

“Ninguém pode dizer que está satisfeito perante uma intervenção destas, mas nós, perante um problema, tivemos que agir e tomar opções e é assim que o Governo tem que fazer”, afirmou.

O ministro acrescentou ainda que “um Governo não tem nenhum prazer especial em injetar 1.200 milhões de euros numa empresa”. “Ninguém falava da alternativa, são 1.200 milhões de euros, havia alguns que defendiam se deixasse cair, para nós era claro que era um tremendo prejuízo deixar cair a TAP”, disse.

Já sobre a necessidade de voltar a injetar dinheiro na empresa, o ministro das Infraestruturas também diz que não pode garantir que não volte a acontecer. “Não posso dar o compromisso que é a única injeção. Não consigo dar o compromisso de que não irá mais nenhum cêntimo, era desonesto fazê-lo“, disse ressalvando no entanto querer comparar a situação da TAP com a do Novo Banco — onde o Estado já fez várias injeções financeiras — “é injusto”.

Para já, o ministro reafirmou a urgência em fazer chegar o dinheiro aos cofres da empresa, para que os aviões “possam voltar a voar”, já que a TAP está praticamente parada, com as rotas para o Brasil em muito menor número e com outras empresas europeias a assegurar as ligações que a empresa portuguesa dominava. Sobre se os salários dos trabalhadores estavam em causa, o ministro disse que “nunca na vida se falhariam pagamentos de salários”, afastando o cenário.

Questionado sobre o período de transição para a nova gestão que ficará à frente da TAP, Pedro Nuno Santos recusou a hipótese de ter mantido Antonoaldo Neves, até que a nova equipa fosse selecionada.

“Não há condições de confiança nem de relação para que Antonoaldo Neves ficasse. É da equipa de Neelman que vai sair da empresa, não fazia sentido nenhum. Podia fazer se as relações tivessem sido melhores que são. Vamos começar a trabalhar já no plano de reestruturação, é o futuro da TAP, não quero que seja construído pelo atual CEO”, apontou o ministro.

Sobre a reestruturação da empresa e a seleção dos novos gestores — que o ministro admite poder demorar “meses” — Pedro Nuno Santos diz que a “equipa de transição vai ser de qualidade” e que “há condições para que [a seleção desta] seja rápida”.