Mais de quatro meses a anunciar mortes e infeções pelo novo coronavírus, e no dia em que finalmente anuncia que se registaram zero mortes, o secretário de estado da Saúde, António Lacerda Sales, emocionou-se. Fez-se silêncio, o os olhos ainda tiveram lágrimas, mas o governante acabou por conseguir conter-se. “Para nós é um motivo de grande satisfação, tem sido muito difícil nos últimos tempos”, justificou, para depois pedir mesmo desculpa. Só não houve justificação, nesta conferência de imprensa diária, para o boletim diário não ter o número de casos de Covid-19 importados, numa altura em que as fronteiras estão já a abertas. Nem uma previsão de quando haverá acesso à tão falada aplicação que permite rastrear contactos de infetados através do telemóvel.

Os números divulgados esta segunda-feira dão conta de 106 novos casos e de zero mortes, mas o Governo continua a olhar com cautela para os números. “Temos analisado os números com a maior cautela, sem euforias desmedidas quando a situação está mais controlada, nem negativismos exacerbados quando as coisas não correm como gostaríamos”, disse o secretário de estado da Saúde.

Em resposta a um jornalista, e voltando ao significado deste número zero, o governante acabou por pedir desculpa por se ter emocionado. E disse não querer mais falar sobre esse número, dando a entender que os números ainda se podem “inverter”. “São muitos meses a anunciar mortes e do ponto de vista humano não é bom”, justificou.

António Lacerda Sales aproveitou também para reiterar o que a Direção Geral da Saúde afirmou este fim de semana: não estão a fazer menos testes. Sales diz que na última semana houve uma média de 13.600 testes por dia e que a redução de infeções em nada se prende com isso. “Nao há qualquer orientação para testar menos”. Até porque, lembra, a realização de testes a contactos confirmados de Covid-19 sempre dependeu, e continua a depender, “da estratificação do risco efetuada pelas autoridades de saúde”. E só a testagem permite, depois, travar cadeias de transmissão. Ainda assim, afirma, os testes têm que ser feitos com critério.

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Aplicação e casos importados sem informação

Sales foi ainda questionado, pelo Observador, sobre a aplicação anunciada em maio, travada pelo Comissão Nacional de Proteção de Dados, mas que entraria em funcionamento já no início de agosto. “O que podemos dizer é que dada a evolução, vamos ter informações muito em breve e eu deixaria para um momento mais oportuno informações sobre a aplicação”, disse, sem adiantar mais informações.

Também sem resposta ficou a pergunta sobre o número de casos importados de Covid-19, que normalmente vêm especificados por país no boletim, mas que esta segunda-feira não foram atualizados. O secretário de estado disse não dispôr dessa informação.

Já na ronda das respostas aos jornalistas, o secretário de estado informou que a 30 de julho eram 4195 os profissionais de saúde infetados, com 3.559 já recuperados. Médicos: 553, enfermeiros: 1289, assistentes operacionais: 1227; assistentes técnicos: 166: técnicos superiores de diagnóstico e tratamento: 129 e outros profissionais: 831.

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Mais pessoas em vigilância por causa do aumento de contactos em desconfinamento

Já o mais recente subdiretor geral da Saúde, Rui Portugal, sobre a diminuição dos casos ativos com Covid-19 (menos 330) e o aumento das pessoas em vigilância (1950), justificou ser normal. “No momento em que estamos a desconfiar, por exemplo em relação às escolas, aos exames, ao reinício de férias, às visitas familiares se tivermos um caso, a probabilidade desse caso ter tido contactos com pessoas hoje é substancialmente maior do que acontecia há um mês, e muitíssimo maior do que há dois meses”, explicou. Se há dois meses um infetado não teria mais de quatro contactos, agora pode contactar facilmente com 10, 20 ou 30 pessoas. “É um bom sinal de identificação por parte da Saúde Pública e um bom sinal, se apertarmos a malha cortamos mais precocemente as cadeias de transmissão”, disse.