O medicamento remdesivir mostrou-se mais eficaz que o tratamento-padrão em doentes hospitalizados com Covid-19, quando apresentavam sintomas moderados e o tratamento foi feito ao longo de cinco dias. Os resultados foram publicados, esta sexta-feira, na revista científica JAMA. Falta saber se o benefício clínico para os doentes justifica o investimento num medicamento tão caro, quando há opções mais baratas.

Para os doentes que receberam o tratamento ao longo de 10 dias, os investigadores não conseguiram encontrar diferenças significativas em relação ao tratamento-padrão. Este resultado pode ser justificado em parte com o facto de apenas 38% dos doentes deste grupo terem completado o tratamento de 10 dias — em média, estavam recuperados ao fim de seis dias.

Ter comparado o tratamento de cinco e 10 dias com um tratamento-padrão (que poderia ser hidroxicloroquina, por exemplo) em vez de um placebo (que se assemelhasse ao medicamento, mas sem as propriedades terapêuticas) é uma das limitações do estudo. O tratamento-padrão poderia diferir entre os 105 hospitais dos Estados Unidos, Europa e Ásia — logo os efeitos serem diferentes entre si e não só em relação ao remdesivir — e os médicos sabiam o que estavam a dar aos doentes.

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O facto de os médicos saberem se estavam a dar remdesivir ou outro medicamento aos doentes podia, por um lado, modificar a atitude que tinham perante o doente, por outro, fazer com que os doentes ficassem hospitalizados até terminarem o tratamento com remdesivir (que tem de ser injetado) em vez de lhes darem alta mais cedo como fariam caso não estivesse a decorrer o ensaio clínico. Isto poderia enviesar os resultados.

A experiência conduzida pela equipa de Christoph D. Spinner, investigador no Hospital Universitário Rechts der Isar, em Munique (Alemanha), não é o primeiro ensaio clínico com remdesivir: um não mostrou qualquer benefício, outro mostrou que o tempo de recuperação era quatro dias mais curto nos doentes que tomavam remdesivir durante 10 dias.

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“Assim, há agora três ensaios clínicos randomizados [com os doentes distribuídos aleatoriamente pelos grupos da experiência] com doentes hospitalizados que têm resultados diferentes, levantado a questão se as discrepâncias são devido ao desenho dos estudos, incluindo a população de doentes, ou se o medicamento é menos eficaz do que esperado“, escreveram Erin K. McCreary e Derek C. Angus, investigadores na Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, num comentário ao artigo publicado na mesma revista.

Os dois investigadores da Universidade de Pittsburgh admitem que, tendo em conta os resultados, o medicamento remdesivir pode ser importante na recuperação de milhões de doentes com Covid-19 em todo o mundo. Mas antes disso é preciso demonstrar se o remdesidir, que teria elevados custos de produção e distribuição em larga escala, pode ter melhores resultados que os corticosteroides que são muito mais baratos e estão amplamente disponíveis.