A região africana da Organização Mundial de Saúde (OMS), que inclui 47 países, foi declarada livre de poliovírus selvagem pela Comissão de Certificação Regional de África (ARCC), uma entidade independente mandatada pela OMS para fazer este tipo de certificação, anunciou em comunicado a organização.

“Hoje é um dia histórico para África”, disse Rose Gana Fomban Leke, presidente da ARCC, lembrando que não há casos de infeção com poliovírus selvagens em África há quatro anos.

Além dos vírus selvagens que causam a poliomielite, são conhecidos alguns casos de poliovírus com origem nas vacinas — que contém vírus atenuados — e que podem ser transmitidos nas populações que não estão vacinadas. As vacinas contra a poliomielite (que causa paralisia nas crianças) são eficazes tanto na proteção contra o vírus selvagem como o derivado das vacinas e são a única forma de proteção contra a doença que não tem cura.

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Os poliovírus selvagens são apenas o segundo tipo de vírus a ser erradicado do continente africano. O primeiro foi o vírus que causava a varíola, erradicado de todo o mundo. A poliomielite continua a ser um problema no Afeganistão (29 casos em 2020) e Paquistão (58 casos) onde as equipas de imunização têm dificuldade em vacinar as crianças.

Desde que se iniciaram os esforços de imunização, em 1996, que foi possível evitar que 1,8 milhões de crianças sofressem de paralisia para o resto da vida e que 180 mil vidas fossem perdidas. Nessa altura, a poliomielite era responsável por cerca de 75.000 casos de paralisia em crianças, por ano, no continente africano. Só em 1988, a OMS registou 350 mil casos em todo o mundo.

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Nelson Mandela também lutou pela erradicação do vírus

O anúncio foi feito numa cerimónia transmitida virtualmente, durante a reunião virtual da 70.ª sessão do comité regional da OMS para a África, através da qual se puderam ouvir os aplausos dos participantes, os membros da Comissão Regional para a Certificação da Erradicação da Poliomielite apresentaram o certificado devidamente assinado. O documento atesta que a região está livre da transmissão do poliovírus.

Visivelmente emocionada, a diretora regional da OMS para África, Matshidiso Moeti, disse que este é “um exemplo do poder da solidariedade”. “É uma das maiores honras da minha vida presidir a esta cerimónia de certificação”, afirmou Moeti, ressalvando que “a batalha ainda não acabou”.

Por seu lado, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que este é “um dia de celebração e esperança”. “Reunimo-nos para nos regozijarmos por um sucesso histórico na saúde pública. Este feito histórico só foi possível devido ao poder da parceria”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, recordando o empenho de Nelson Mandela, que se envolveu no combate a esta doença, tal como o fez em relação a outras doenças.

Um futuro sem poliomielite pode ter parecido uma vez impossível. Mas, nas palavras de Nelson Mandela, quando as pessoas estão determinadas, podem ultrapassar tudo”, acrescentou.

Mandela foi igualmente recordado pelo Presidente da Nigéria, o último país a assistir à erradicação da poliomielite em África – último caso registado em 2016 —, que se congratulou pelo feito, afirmando que este é de uma grande importância, “não só para os nigerianos, mas para todos os africanos”.

A poliomielite, causada pelo poliovírus selvagem (WPV), é uma doença infecciosa aguda e contagiosa que afeta principalmente as crianças, ataca a medula espinal e pode causar paralisia irreversível. Trata-se de uma doença que era endémica em todo o mundo, até à descoberta de uma vacina nos anos de 1950.

Os países mais ricos tiveram acesso rápido à vacina, mas a Ásia e a África continuaram a ser os principais focos infecciosos durante muito tempo.

Erradicado mais um tipo do vírus da poliomielite