O preço médio da eletricidade no mercado grossista caiu cerca de 33%, entre abril e junho, para 23,26 euros/megawatt-hora (MWh), comparado com o trimestre anterior, divulgou esta sexta-feira a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE). Já no gás natural, a descida foi de 36% no mesmo período.

De acordo com o Boletim Especial Covid-2019, “o preço médio (da eletricidade no mercado grossista) entre abril e junho (cerca de 23,26 euros/MWh) é inferior em aproximadamente 33% quando comparado com os três primeiros meses do ano”. Já relativamente à totalidade do ano de 2019, a quebra do preço da eletricidade no mercado grossista – onde produtores vendem aos comercializadores – excede os 50%, acrescenta.

Analisando a situação específica dos meses de abril, maio e junho, a ERSE verificou quebras globais de consumos de 14%, 16% e 8%, respetivamente. De acordo com os valores apurados, observou-se que os clientes empresariais de pequena dimensão – clientes em Baixa Tensão Especial (BTE) — foram os mais afetados, com uma variação homóloga que atingiu uma quebra para metade do consumo em abril e maio, e uma quebra de 18% em junho, face ao mesmo mês de 2019.

O segmento de clientes industriais em Média Tensão (MT), registou uma tendência de queda semelhante, ainda que com variações mais reduzidas (quebras ligeiramente superiores a 1/4 do consumo nos meses de abril e maio, quando comparados com os mesmos meses de 2019). Para os grandes consumidores – clientes em Muito Alta Tensão (MAT) e Alta Tensão (AT) – a evolução é de certa forma semelhante, tanto em quebra de consumos como, durante o mês de junho, na sua recuperação.

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Por outro lado, a generalidade dos consumidores residenciais e pequenos negócios – clientes em Baixa Tensão Normal (BTN) – registou uma ligeira subida de consumo, de 1% a 2%.

“O segmento de clientes no qual se observou a maior redução homóloga dos consumos – clientes em BTE – representa cerca de 7% do consumo global, enquanto os grandes consumidores (clientes em MAT e AT) representam cerca de 21%”, esclarece a ERSE.

Medidas excecionais evitaram 9 mil cortes do fornecimento por falta de pagamento

De acordo com o documento, no primeiro trimestre do ano foram reportadas cerca de 94 mil interrupções de fornecimento de eletricidade, que corresponde a menos 20,6% do que o registado no mesmo período de 2019. Considerando um período de 12 dias do primeiro trimestre em que se refletiam os efeitos da pandemia de Covid-19, cerca de 7,7% dessa redução pode atribuir-se diretamente a impactos da pandemia e da medida aprovada pela ERSE de proibir a interrupção de fornecimento por falta de pagamento da fatura.

Ao abrigo dessa medida, registou-se um volume de cerca de 9,2 mil interrupções não efetuadas no primeiro trimestre do ano, adianta o regulador. Entre abril e junho, período que abrange a vigência das medidas excecionais em contexto de pandemia de Covid-19, um total de oito comercializadores solicitaram o fracionamento de faturação do acesso às redes, tendo sido o mês de maio aquele em que mais se recorreu à aplicação desta medida.

O preço médio do gás natural no mercado grossista atingiu cerca de 6,41 euros/megawatt-hora (MWh), entre abril e junho, menos 36% comparando com o trimestre anterior, e menos 59% face a 2019, divulgou esta sexta-feira o regulador.

“A análise da evolução do preço permite constatar um preço médio entre abril e junho de 2020 (período integralmente exposto aos impactes da pandemia) abaixo do registado nos períodos precedentes, ainda que, em junho, se tenha registado uma recuperação do preço, que, todavia, se mantém abaixo do valor de março ou mesmo abril de 2020”.

Analisando os dados da evolução dos consumos reportados pela REN Gasodutos, a ERSE verificou uma redução global de consumo no período da pandemia, levando a que se registe, para o primeiro semestre do ano, uma quebra de consumos que ascende a 9%, face ao mesmo período do ano passado (excluindo os consumos dos centros eletroprodutores). Já nos meses de abril, maio e junho, é possível verificar quebras globais de consumos de 13%, 28% e 13%, respetivamente.

“O perfil de evolução temporal das variações homólogas de consumo de gás natural sugere que a maior incidência de impactes da pandemia nos consumos se verificou em maio (-28% de consumo face a maio de 2019), sendo que os meses de abril e de junho apresentam variações homólogas semelhantes”, refere o boletim, acrescentando que as quebras globais de consumo são mais expressivas no segmento do gás natural do que no da eletricidade e que a retoma dos consumos está a ser mais lenta.

Os clientes industriais de maior dimensão – clientes na rede em Alta Pressão (AP) – são os que registam maiores impactos no consumo, especialmente em maio, com uma variação acumulada homóloga para o primeiro semestre de 2020 que mostra uma quebra de 13%.

No que diz respeito aos consumos agregados dos clientes residenciais e empresariais de menor dimensão e dos clientes industriais de pequena e média dimensão – clientes em Baixa Pressão (BP) e Média Pressão (MP) – observou-se uma quebra de consumos no primeiro semestre que atinge cerca de 8%, em termos homólogos.

“Este segmento explicita uma evolução temporal das variações de consumo que, por sua vez, sugere que se tratou do segmento que mais rapidamente repercutiu os impactes da pandemia – em abril registou-se uma quebra de consumos de 19%, que se foi suavizando nos meses seguintes”, refere a ERSE. Entre abril e maio registou-se um total de 5.956 pontos de entrega (CUI) para os quais foi requerida a faturação fracionada pelo comercializador, representando um volume estimado de cerca de 389 mil euros.