Uma festa de casamento de cidadãos de etnia cigana no concelho de Moura, Beja, com cerca de 300 pessoas foi interrompida pela GNR na passada sexta-feira, às 14h00, depois de uma denúncia anónima. A informação foi confirmada pelas autoridades em resposta ao Observador.

A GNR, que garante não ter tido conhecimento prévio do casamento, confirmou a presença de cerca de 300 pessoas num terreno de Póvoa de São Miguel, concelho de Moura, “sem que estivessem a ser cumpridas as medidas preventivas de contágio por Covid-19, designadamente o distanciamento social e a utilização de máscaras”.

Os militares avançaram então para “a dispersão das pessoas, o que foi logrado, sem que tivesse ocorrido qualquer incidente”. “Os factos foram comunicados ao Tribunal Judicial de Moura”, acrescenta fonte oficial da GNR.

O Jornal de Notícias revela que a cerimónia foi realizada num terreno cedido pela Junta de Freguesia de Póvoa de São Miguel (JFPSM), localizado na pista de motocrosse da aldeia. De acordo com o mesmo jornal, tal  cedência terá sido feita com a garantia de que existira um parecer da Autoridade de Saúde Pública e de que a mesma cumpriria as regras de segurança decretadas pelo Governo no combate à pandemia de covid-19: máximo de 20 pessoas, desinfeção das mãos com álcool-gel, uso de máscaras e cumprimento do distanciamento social.

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No Facebook, o presidente da Câmara Municipal de Moura, Álvaro Azedo, escreveu que na tarde de sexta-feira pediu à GNR “intervenção para que o ajuntamento fosse terminado com a maior celeridade possível” porque terá ocorrido uma denúncia anónima e acrescenta que o município já se tinha manifestado “contra a realização de tal festa”.

“No que diz respeito ao casamento de Póvoa de São Miguel, os responsáveis do Destacamento de Moura da GNR.; PSP; e restantes membros do Centro Coordenador de Proteção Civil (que reúne todos os dias pela manhã) sabem perfeitamente que o Serviço Municipal de Proteção Civil de Moura [SMPC] se manifestou contra a realização de tal festa. E, no expediente efetuado pela GNR e que seguiu para o Ministério Público, encontra-se, inclusivé, um parecer solicitado pelo SMPC à Autoridade de Saúde Pública”, afirma.

“Devo também referir, que embora estivesse em serviço na Herdade da Contenda durante a tarde de ontem, falei várias vezes com o oficial da GNR no comando do Destacamento, solicitando intervenção para que o ajuntamento fosse terminado com a maior celeridade possível. Igual pedido formulei ao senhor Presidente da Junta de Freguesia”, adianta.

https://www.facebook.com/alvaro.azedo.98/posts/367086657619199

Caso leva a polémica entre o autarca de Moura e o Chega

Este caso levou mesmo a uma polémica entre o partido Chega e o autarca Álvaro Azedo (PS). Na sua publicação no Facebook, o presidente de Câmara de Moura nunca escreve o nome do partido de André Ventura mas faz alusões à “proganda fascista”, “racismo” e “xenofobia”. “Só vos peço uma coisa: que as dificuldades e a propaganda fascista nunca nos tolde a razão e a capacidade para perceber que o caminho que temos de percorrer deve ser feito de exigência e nunca de recurso ao ódio”, escreve.

Entre os vários assuntos que refere como tendo merecido críticas do Chega, Álvaro Azedo comenta os apoios públicos que a autarquia tem dado a famílias de etnia cigana para a compra de bens alimentares e farmácia. “A Câmara Municipal de Moura apoiou 21 famílias de etnia cigana. Dessas, apenas 5 se encontram por liquidar a sua despesa e, certamente, que o farão”, afirma.

O autarca faz questão de afirmar que outras “15 famílias não ciganas” receberam o mesmo tipo de apoios e que também têm “pequenas situações por regularizar. Quanto a esta matéria, estamos conversados. Todas as pessoas têm vindo a regularizar as situações e não me parece decente que tal facto mereça que se alimentem ódios”, conclui.

Texto atualizado às 21h24m