Pelo menos duas pessoas ficaram feridas depois de terem sido atacadas esta sexta-feira por um homem com uma arma branca junto à antiga redação do jornal satírico Charlie Hebdo — alvo de um atentado em 2015, no 11.º bairro de Paris. São já sete as pessoas detidas por suspeitas de estarem ligadas aos ataques, classificados pelo ministro do Interior como “um ato de terrorismo islâmico”.

O principal suspeito é um jovem de 18 anos, de nacionalidade paquistanesa, sem “nenhum sinal de radicalização”, conhecido das autoridades por pequenos delitos e posse ilegal de arma. Um outro suspeito, um colega de quarto deste jovem, é de origem argelina e tem 33 anos. Ficou em prisão preventiva esta noite por alegado envolvimento no caso, informou este sábado fonte judicial.

Os dois feridos foram transportados para o hospital e estão em estado muito grave, embora não corram perigo de vida, confirmou o primeiro-ministro francês, Jean Castex, ao Le Parisien. Tratam-se de dois funcionários da produtora Premières Lignes, que trabalham na produção e pós-produção de filmes, afirmou ao Le Monde o produtor e co-diretor da empresa, o jornalista Luc Hermann. Os escritórios da Première Lignes ficam junto às antigas instalações do jornal, na rua Nicolas Appert.

Logo depois do ataque, dois suspeitos foram detidos na Praça da Bastilha. Durante a tarde, a casa do principal suspeito, em Val-d’Oise, a norte de Paris, foi a ser alvo de buscas, segundo avança o jornal Le Parisien. Foi na sequência destas diligências que outras cinco pessoas que lá viviam foram detidas por elementos da polícia de investigação de atividades terroristas — são cinco homens, com idades entre os 24 e 37 anos, de acordo com o Le Figaro.

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O ministro do Interior francês admitiu que se podia “ter feito melhor”, para proteger as antigas instalações do Charlie Hebdo. Gérald Darmanin anunciou que deu “instruções para que a proteção das sinagogas fosse reforçada” neste fim de semana por causa do Yom Kippur, um feriado judaico que será celebrado de domingo à noite a segunda-feira.

“Obviamente este é um ato de terrorismo islâmico. É um novo ataque sangrento contra o nosso país, contra jornalistas”, disse o ministro numa entrevista ao canal France 2.

Procuradoria antiterrorismo abre inquérito por tentativa de homicídio

A procuradoria antiterrorismo francesa abriu um inquérito por “tentativa de homicídio relacionado com ato terrorista e organização terrorista criminosa”. A decisão, explicou o procurador francês, baseou-se em três fatores: a localização do ataque, junto à antiga redação do jornal satírico, o momento, visto estar a decorrer em Paris o julgamento de cúmplices do ataque ao Charlie Hebdo, e a “vontade manifesta do autor de atentar contra a vida de duas pessoas”.

O procurador de Paris, Rémy Heitz, tinha anunciado ao final da manhã que uma investigação por tentativa de homicídio seria aberta pela polícia. Em declarações à agência de notícias France-Presse, confirmou a detenção de um primeiro suspeito.

O ataque desta sexta-feira acontece por altura do julgamento sobre o atentado ao Charlie Hebdo, que começou a 2 de setembro. Este envolve 14 indivíduos suspeitos de terem fornecido apoio logístico aos irmãos Said e Chérif Kouachi e a Améddy Coulibaly, autores do ataque ao jornal satírico. O julgamento deve terminar a 10 de novembro. Para assinalar o início do julgamento, o jornal republicou as caricaturas de Maomé que a transformaram num alvo dos jihadistas. “Nós não dormiremos nunca. Nós nunca renunciaremos”, justificou o diretor do jornal satírico, Riss, neste número especial.

Por volta das 17h30 locais (cerca de 16h30 em Lisboa) o Ministério do Interior francês anunciou que o perímetro de segurança instalado ia ser reduzido, mas continuaria ativo para efeitos de investigação.

Artigo atualizado às 9h19 de 26/9/2020