Há dois pólos no PS em confronto relativamente às  presidenciais e — apesar dos apelos de “reserva” do próprio primeiro-ministro — o conflito já não é feito em surdina. Depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, ter voltado esta terça-feira a elogiar Marcelo Rebelo de Sousa e a dizer que Ana Gomes seria uma boa candidata, mas não para o PS, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos respondeu esta manhã com firmeza e um aviso: “Quem decide quem o PS apoia são os órgãos do partido. Ponto. Não é o Governo, não é nenhum membro do Governo, é mesmo o Partido Socialista que decide quem apoia e quem deixa de apoiar.”

Mas Pedro Nuno Santos — que chegou a dizer que votaria no candidato do PCP ou BE se o PS apoiasse Marcelo — saiu mesmo em defesa de Ana Gomes. Santos Silva tinha dito: “Se Ana Gomes é uma boa candidata? Na minha opinião, sim. Se Ana Gomes é uma boa candidata para ter o apoio do PS? Na minha opinião, não”. Ora, o ministro das Infraestruturas — que falava esta quarta-feira de manhã após uma visita ao Porto de Sines — não gostou do que ouviu e sugeriu que a antiga eurodeputada socialista pode ser considerada para candidata do PS: “As pessoas não servem para o PS para fazerem umas coisas de vez em quando, para serem candidatas, para serem eurodeputadas, para serem candidatas à câmara municipal, para serem membros do secretariado nacional e depois de um momento para o outro passarem a ser vilipendiadas porque não lhes dá jeito.

Foi a defesa mais clara de um governante do PS a Ana Gomes. E não podia ser mais clarificadora. Isto embora Pedro Nuno não queira dizer que vai defender o apoio do partido a Ana Gomes, ao esclarecer que o seu “sentido de voto” apenas será revelado “no momento em que o partido se reunir para debater as Presidenciais. É aí que se vai decidir não é em mais lado nenhum.”

Pedro Nuno desafia (e contraria) Costa

Pedro Nuno Santos já tinha avisado em julho, numa entrevista à RTP, que nunca apoiaria um candidato da direita e que preferia votar no candidato do Bloco de Esquerda ou do PCP. Do outro lado, António Costa tinha praticamente lançado meses antes uma recandidatura de Marcelo durante uma visita de ambos à Autoeuropa. Outras figuras do partido, como Fernando Medina ou Ferro Rodrigues, também manifestaram a preferência por Marcelo Rebelo de Sousa.

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Depois disso, António Costa deu-lhe uma puxão de orelhas a Pedro Nuno Santos numa entrevista ao Expresso no final de agosto para que não comentasse as presidenciais: “Os membros do Governo devem ter em relação às presidenciais um particular dever de reserva, tendo em conta aquilo que é a relação que o Governo deve manter com o próximo Presidente, com quem teremos de conviver muito tempo”.

Pedro Nuno Santos não só não respeitou esse dever de reserva (na verdade, Santos Silva também não), como ataca o argumento de Costa ao dizer que não apoiar “o Presidente da República em exercício não significa desconsideração, desrespeito, deslealdade”. E acrescentou: “Nós vivemos numa democracia madura e era só o que faltava que as pessoas e os políticos ficassem chateados uns com os outros porque não tiveram o apoio deste ou daquele. A democracia é mesmo assim.”

O PS vai discutir quem apoia (ou não apoia) nas presidenciais na próxima Comissão Nacional, de 24 de outubro. Pedro Nuno Santos tem, neste momento, uma boa parte da estrutura do PS com ele, que não significa que seja aparelho contra Costa, já que muitas federações são pedro-nunistas e costistas ao mesmo tempo. O aparelho não quer descolar de Costa, mas Pedro Nuno Santos pode ter a tentação de fazer uma demonstração de força. Para já, deixou o sinal de que não se vai abster de tomar posição, antecipando que dia 24 de outubro vai dizer quem acha que o PS deve apoiar. E isto ao mesmo tempo que elogia Ana Gomes, a candidata que António Costa não quer.