Os resultados preliminares de um estudo feito pela Ordem dos Médicos, com uma amostra de 1.802 profissionais, indicam que a taxa de prevalência da Covid-19 nos profissionais de saúde foi de 3%. Apesar de ser um valor “muito positivo porque significa que os profissionais se prepararam”, e semelhante ao da população em geral, os autores do estudo avisam que os números poderão ser superiores, uma vez que não foram considerados para esta parte do inquérito o pessoal da saúde que manifestou a infeção.

O estudo, apresentado esta sexta-feira no Porto, pretendeu avaliar se os profissionais de saúde que compõem esta amostra, entre abril e junho, estiveram infetados pela Covid-19, mas permaneceram assintomáticos. Entre médicos, enfermeiros e outros trabalhadores de cuidados de saúde, não foram incluídos os profissionais que testaram positivo à Covid-19 nem os que trabalharam apenas nos seus gabinetes, sem terem estado no terreno durante o período crítico da pandemia.

É uma taxa de prevalência semelhante à da população em geral, cerca de 3%. Poderão dizer que é baixa para a nossa expectativa e para a exposição que tiveram os profissionais de saúde, mas é preciso ter em conta que um grupo importante de profissionais de saúde já entrou no painel da imunidade. Tem que haver depois um fator de correção para acertar melhor a taxa de prevalência, que na realidade vai ser superior a esta”, explicou Álvaro de Carvalho, presidente da Fundação Álvaro de Carvalho e coordenador deste estudo.

Francisco Antunes, antigo diretor do serviço de Infecciologia do Hospital de Santa Maria, acrescenta que este dado é importante porque “vem reforçar o problema que tem esta pandemia: os assintomáticos“. “Cerca de 3% dos profissionais de saúde ficaram infetados e a sua infeção passou assintomática. Eles nem deram por ela”, explicou. Já o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, afirma que ainda não é possível fazer uma comparação entre a seroprevalência nos profissionais com a seroprevalência na população em geral.

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O estudo que foi levado a cabo pela Fundação Vox Populi, Fundação Manuel Viegas Guerreiro, Fundação The Claude and Sofia Marion Foundation, Fundação Álvaro Carvalho e pelo Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa indica também outros resultados: é no Norte que estará a maior taxa de prevalência do vírus entre os profissionais de saúde, cerca de 6,2%.

É quase o dobro no Norte do que no Sul [cerca de 2%]. A nossa interpretação preliminar é de que, como a pandemia começou em Portugal pelo Norte, as pessoas foram apanhadas um pouco desprevenidas e talvez a margem de pessoas que trabalharam desprotegidas poderá ser maior. O Sul beneficiou não da experiência que vinha do estrangeiro e viu o filme que se estava a passar no Norte”, sublinha Álvaro de Carvalho.

Além da prevalência, os dados mostram ainda que cerca de 80% dos profissionais de saúde dizem ter trabalhado sempre com Equipamento de Proteção Individual, enquanto 17% responderam que estavam parcialmente protegidos e cerca de 2% referiu nunca ter trabalhado com proteção. Miguel Guimarães destacou o caso particular dos médicos, em que “dois terços disseram ter tido acesso a equipamento, o que quer dizer que pelo menos um terço não terá tido”, uma questão que terá a ver sobretudo com o início da pandemia.

Houve algumas falhas que têm a ver com várias situações e [os profissionais de saúde] não estiveram sempre com os EPI que deveriam. Os EPI não são iguais em todas as circunstâncias. Uma máscara cirúrgica é diferente de uma FFP2″, exemplificou.

Apesar de os dados serem ainda preliminares, Álvaro Carvalho explicou que o objetivo deste estudo foi “compreender, sobretudo, se a taxa de prevalência nos profissionais de saúde, sempre muito expostos a pessoas que estavam infetadas, era muito superior à população em geral”.

Além deste estudo aos profissionais de saúde, as mesmas entidades têm também em mãos outros dois inquéritos: um em Vila Nova de Gaia, com uma amostra de três mil pessoas para analisar a taxa de prevalência epidemiológica em Portugal, e outro estudo — o Painel de Vigilância Imunológica — que envolve todo o tipo de pessoas, incluindo profissionais de saúde e funcionários e utentes de lares de idosos, para saber se, à partida, as pessoas que estiveram infetadas ficam com alguma imunidade humoral e durante quanto tempo.