Foi a notícia de que Hope Hicks, uma das mais próximas conselheiras de Donald Trump, estava infetada com a Covid-19 que obrigou o Presidente dos EUA a fazer um teste de urgência. “Hope Hicks, que tem trabalhado tanto sem sequer fazer uma pequena pausa, acabou de testar positivo para a Covid-19. Terrível! A primeira-dama e eu estamos à espera dos resultados dos nossos testes. Entretanto, vamos começar o nosso processo de quarentena”, escreveu Trump na noite de quinta-feira, já madrugada de sexta-feira em Portugal. Duas horas depois, a confirmação: Trump e Melania estão infetados.
Hope Hicks, who has been working so hard without even taking a small break, has just tested positive for Covid 19. Terrible! The First Lady and I are waiting for our test results. In the meantime, we will begin our quarantine process!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) October 2, 2020
Segundo os jornais norte-americanos, Hope Hicks tinha sido a pessoa mais próxima do Presidente dos EUA a contrair o novo coronavírus até ao momento. Esta semana, Hicks acompanhou Trump a bordo do avião presidencial em vários momentos e contactou com praticamente todos os elementos do círculo mais restrito do Presidente (a NBC contabilizou 21 nomes que, nos últimos dias, viajaram com Hicks).
A preocupação com a possibilidade de o coronavírus estar disseminado entre o nível de topo da Casa Branca começou na noite de quarta-feira, quando Donald Trump viajou até à cidade de Duluth, no estado do Minnesota, a bordo do Air Force One, o avião presidencial. Hope Hicks, que depois de vários anos como diretora de comunicações da campanha e da Casa Branca é atualmente conselheira política de Trump, viajou com o Presidente no avião. Antes, Hicks tinha sido vista a acompanhar Trump no Marine One, o helicóptero que habitualmente transporta o Presidente entre a Casa Branca e o aeroporto, juntamente com outros conselheiros presidenciais, como Stephen Miller, Dan Scavino e Jared Kushner — todos sem máscara.
Na viagem entre Washington, DC e o Minnesota, Hicks estava saudável. Foi já na cidade de Duluth, na altura em que Donald Trump estava em palco a discursar, que a conselheira começou a exibir os primeiros sintomas, ainda muito ligeiros. Segundo o The New York Times, que cita uma fonte próxima do Presidente que esteve presente no comício, Hope Hicks foi de imediato isolada. Na viagem de regresso a Washington, viajou dentro do avião presidencial, mas isolada dos restantes passageiros e desembarcou pela porta de trás do avião, não tendo contactado mais com o Presidente.
Modelo, campeã de lacrosse e a mulher que entende Trump
Hope Hicks tinha 26 anos quando entrou ao serviço de Donald Trump, em 2015, para se tornar assessora de imprensa da campanha presidencial do magnata do imobiliário. Antes disso, nunca tinha trabalhado em política. Em jovem, foi jogadora de lacrosse e modelo — e, como lembrava na altura a imprensa americana, a sua maior exposição mediática havia sido um programa infantil da Nickelodeon sobre golfe. Chegou à esfera de Trump quando passou a trabalhar na empresa de produtos de luxo de Ivanka Trump, filha do Presidente, e nos negócios imobiliários do empresário, depois de ter passado por um estágio na Hiltzik Strategies, uma empresa de relações públicas que representa estrelas de Hollywood e grandes empresários.
A inexperiente Hope Hicks saltou rapidamente de algumas capas de revista para se tornar na responsável pelas relações públicas de Donald Trump — numa campanha eleitoral em que a oponente, Hillary Clinton, contou com o serviço de uma série de assessores de imprensa calejados na política de Washington.
O convite nem foi bem um convite. Foi o próprio Trump quem telefonou à jovem de 26 anos para a chamar ao seu gabinete. “Sentou-a e disse: ‘Este é teu novo emprego’“, relatou em 2016 ao The New York Times a mãe da assessora. Da pequena cidade de Greenwich, no estado do Connecticut, onde nasceu, Hope Hicks mudou-se para Nova Iorque e alterou por completo o estilo de vida: passou a viver gratuitamente num apartamento nas propriedades de Trump e a lidar diretamente com os humores do candidato presidencial todos os dias.
“O papel mais importante dela é a relação dela com o candidato. Ela entende-o completamente“, descreveu na altura o conselheiro político Paul Manafort (entretanto condenado a sete anos de prisão por fraude fiscal). “O meu pai obriga as pessoas a ganhar a confiança dele. Ela ganhou a confiança dele“, acrescentou a filha Ivanka Trump. A influência que ganhou em pouco tempo valeu-lhe um lugar na lista dos 30 under 30 da Forbes em 2017.
Depois da vitória de Trump, Hope Hicks entrou diretamente para a Casa Branca, como diretora de comunicação estratégica do Presidente Trump. Depois de Sean Spicer e Anthony Scaramucci, Hicks assumiu também a direção de comunicação da Casa Branca, função que desempenharia até março de 2018, altura em que anunciou a intenção de abandonar a administração Trump. A saída da Casa Branca aconteceu numa altura em que decorria a investigação, liderada pelo procurador Robert Mueller, à alegada interferência da Rússia nas eleições norte-americanas. Na audição perante o Congresso, Hicks admitiu ter, em alguns momentos, mentido em nome do Presidente — mas nunca no que disse respeito ao assunto em investigação.
Da Casa Branca, Hope Hicks passou para a Fox Corporation como vice-presidente e diretora de comunicação. Por ali ficou perto de dois anos até que, no início de 2020, regressou à Casa Branca. No regresso, Hicks deixou de lado as questões da comunicação e assumiu um cargo de conselheira política, para trabalhar com Jared Kushner, genro e conselheiro de Trump.
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