António Lobo Xavier afirma que nas últimas horas sentiu já o estigma que existe em relação às pessoas que têm Covid-19. O comentador e membro do Conselho de Estado, que ficou a saber que estava infetado depois de uma reunião deste conselho onde esteve também a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse esta segunda-feira na TVI ter sentido que as notícias se esqueceram de que ele era um “doente”, uma “vítima” do novo coronavírus. E deixou claro não ter sido o foco de qualquer surto — todos os conselheiros testaram negativo, conforme noticiou esta tarde o Observador.
Eu às vezes ouço as notícias e acho que se esquece que nesta história há uma vítima, um doente, a precisar de cuidados, com risco de sequelas, que não foi foco de nenhum surto, nem com os seus familiares, nem com os seus amigos, nem com os membros do Conselho de Estado, nem com os profissionais com que contactou. E, enfim, penso que às vezes as pessoas têm a ideia de que os poderosos e os conhecidos nunca estão infetados, mas isso acontece a todos. Mas eu estou bem”, lamentou Lobo Xavier.
O advogado e comentador, que se mostrou incomodado com o facto de ter tido a companhia de Donald Trump nas notícias das últimas horas, começou por explicar o que sentiu, garantindo que não só não é um negacionista, como cumpre todas as regras: “Tive algumas manifestações, foi isso que me levou a fazer o teste no sábado, tive uma febre muito ligeira e algum mal-estar físico. Fiz o teste no sábado, porque senti que o devia fazer por causa desses sintomas, mas agora não tenho sintomas nenhuns”.
Eu cumpro todas as regras, sou até acusado de ser cauteloso de mais, tenho ligacões a instituições de solidariedade social. Mas obviamente ponho gasolina nas áreas de serviço, desloco-me para trabalhar em Lisboa, vou à TVI fazer o programa, embora veja que na TVI se cumprem as regras escrupulosamente”, acrescentou.
Mas apesar de estar doente, diz que o caso que protagonizou foi tratado na praça pública como uma ameaça premeditada a grandes dignitários, citando mesmo o Regicídio.
Senti isso [o estigma social]. Eu fiz uma coleção de notícias sobre mim próprio e sobre o Conselho de Estado e só me lembrava do Regicídio. A última grande notícia sobre ameaças, de decapitação a grandes dignitários, com uma dimensão destas era o Regicídio. É um estigma”, disse.
Lobo Xavier quis, porém, diferenciar o seu caso do de outras pessoas que não têm cuidados: “Há dois tipos de pessoas, as que cumprem as regras e são escrupulosas, como foi o meu caso. E há as que são negacionistas e que são temerárias, eu dessas não tenho realmente grande pena. Isto pode acontecer a todos”. E deixou claro que não gostou “da companhia do Presidente dos EUA nas notícias do dia“.
Até agora ninguém, das pessoas com que contactei, está infetado, eu nem sei sequer se eu estava infetado durante o Conselho de Estado”, disse, acrescentando: “Até sabermos os resultados dos testes, felizmente, negativos, e eu lamento o incómodo que causei aos conselheiros, tanto podia ter sido eu a infetar alguém, como um desses conselheiros a infetar-me a mim. Infelizmente causei esse mal-estar e esse incómodo. Não consigo identificar o ponto onde as minhas defesas e os meus cuidados falharam.
Sobre a presença de Ursula von der Leyen, Lobo Xavier afirmou: “Eu lamento, mas ela [a Presidente da Comissão Europeia] deve estar preparada, faz viagens, e é uma pessoa que eu admiro, aliás, elogiei-a imenso durante o Conselho de Estado. Temos de estar todos preparados, porque isto infelizmente pode acontecer”.
Ainda assim, reconheceu que “seria muito triste” para si se tivesse infetado alguns dos conselheiros.
Apesar do azar, o comentador televisivo reconhece que foi gratificante ver como tudo funcionou no seu caso.
Funcionaram os procedimentos, eu tenho ligações diárias com a delegada de saúde da minha área de residência e com o médico de família que foi identificado para me acompanhar. Foi me pedida uma identificação exaustiva de todas as pessoas com quem estive durante a semana, e foi isso que fiz. Apesar do incómodo que causei aos outros, foi uma experiência para mim gratificante ver tudo a funcionar”, concluiu.