Se tivesse de escolher cinco animais venenosos até podia lembrar-se da viúva negra, do peixe-aranha, das rãs-flecha, da víbora ou do dragão-de-komodo, mas mais difícil seria que incluísse um mamífero na seleção. Estes animais peludos e bebedores de leite são mais conhecidos pelas garras e dentes quando precisam de atacar, mas existem quatro grupos de mamíferos que também são capazes de produzir venenos — incluindo primatas.

Não é uma novidade para a ciência, mas é suficientemente recente (tem 80 anos) e insólito para ainda não ter sido completamente explicado pelos cientistas. Até porque as espécies venenosas dos quatro grupos usam as suas toxinas de formas e com objetivos diferentes — logo, não terão a mesma origem evolutiva.

Os solenodontes, que existem apenas na República Dominicana, Haiti e Cuba, são considerados fósseis vivos, porque em 60 milhões de anos a espécie sofreu muito poucas mudanças. E os ornitorrincos, que só existem na Oceânia, pertencem a um grupo que não desenvolveu todas as características típicas dos mamíferos. Isto deixa antever porque é que o veneno é tão raro nos mamíferos.

No passado, terão existido outras espécies de mamíferos capazes de produzir veneno, mas esta capacidade é muito exigente em termos energéticos, o que pode justificar que os animais de grande porte tenham optado por outras estratégias para caçarem ou se defenderem.

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Ornitorrincos

Os ornitorrincos são em tudo atípicos. São considerados mamíferos porque têm pelo e glândulas mamárias, mas depois põem ovos, têm um bico de pato e um espigão nas patas posteriores que serve para injetar veneno nos adversários durante as disputas pelas fêmeas. Não é mortal para humanos, mas pode provocar uma dor insuportável e prolongada.

Musaranhos e solenodontes

Estes insetívoros usam a saliva venenosa para paralisar as presas. A glândula do veneno encontra-se na base dos incisivos inferiores e uma mordedura pode ser dolorosa para os humanos.

Lóris

Os lóris são pequenos primatas do sudeste asiático. O ar cândido e os olhos esbugalhados não permitem antever quão dolorosa é a sua mordida. Os animais têm uma glândula na zona dos cotovelos que produz um líquido claro que os lóris lambem quando se sentem em perigo. Uma mordidela com os pequenos dentes afiados deixa no atacante feridas dolorosas de cicatrização lenta.

Germany; Berlin: vampire bat in the nocturnal house in the Berlin zoo - 2003

Morcegos-vampiros

A substância usada por estes morcegos, os únicos que se alimentam de sangue, tem uma função diferente, não serve para defesa ou ataque, antes para facilitar a alimentação. Os morcegos furam a pele da presa com dois dentes afiados e a draculina na saliva faz com que o sangue não coagule e flua mais rápido para os animais se alimentarem facilmente.