Já existiam no mercado veículos eléctricos antes da Tesla apresentar o seu primeiro Model S, em 2012, mas foi ele, devidamente acompanhado pelos outros modelos do fabricante californiano, bem como os da Jaguar, Audi, Mercedes, Porsche e VW que provaram que os automóveis a bateria podiam ser rápidos, espaçosos e sexies. Porém, para os preços caírem, a produção tem de aumentar e isso só será conseguido com a oferta de eléctricos baratos, sobretudo abaixo da barreira psicológica dos 20.000€, depois de beneficiarem dos incentivos.

O primeiro a oferecer modelos citadinos animados exclusivamente por bateria foi o Grupo VW, através das marcas Seat, Skoda e, claro está, Volkswagen. Tudo estava bem encaminhado para o Mii Electric, o Citigoe iV e o e-up! invadirem o mercado europeu, tanto mais que era necessário evitar as multas de Bruxelas ao incumprir os limites de emissões de CO2, mas tudo parou quando o grupo alemão parece ter desistido do projecto, com a Skoda, que fabricava os três citadinos com menos de 4 metros de comprimento, a anunciar que a produção ia terminar no final do ano, o que levou a Volkswagen AG a adquirir créditos de carbono à MG para respeitar os 95g de CO2/km.

Mas se é pena que estes três nunca tenham evoluído de promessa para realidade, com as suas baterias de 36,8 kWh e autonomias de 260 km, segundo o método WLTP, ao que parece por serem demasiado caros de produzir, eis que surgem no horizonte três novas propostas, estas mais decididas e com garantia de não fazerem marcha-atrás. Referimo-nos aos Twingo Electric, ao Fiat 500e e ao Dacia Spring Electric, os dois primeiros a chegar ao mercado português no primeiro trimestre de 2021 e o terceiro no Outono.

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Três modelos e três filosofias distintas

Não deixa de ser curioso que estes três veículos se integrem em três categorias diferentes, tentando não concorrer entre si. Com comprimentos entre 3,615 metros do Twingo e 3,734 m do Spring, passando pelos 3,632 m do 500e, o Renault é o mais generoso entre eixos (2,492 m), seguido do Dacia (2,423 m) e do Fiat (2,322 m).

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Dacia Spring. Trunfos do eléctrico mais barato

Se o Twingo se assume como um citadino convencional, com carroçaria de quatro portas, o Spring, com aspecto mais robusto e maior altura ao solo, reivindica o estatuto de pequeno SUV, ou pelo menos de crossover. O 500e segue a sua receita habitual, que lhe tem permitido dominar o segmento, até aqui entre os modelos que possuem motores de combustão. Tem apenas duas portas – a versão Action não vai oferecer a solução 3+1, com duas portas do lado esquerdo e sem pilar B para facilitar o acesso –, o que lhe belisca a versatilidade, mas não lhe limita a estética, que sempre foi o seu grande trunfo.

Com filosofias eminentemente citadinas, os três modelos disponibilizam bagageiras entre 185 litros (Fiat) e 300 litros (Dacia), com o Renault a oferecer 219 litros. São propostas acima de alguns eléctricos do mercado, comercializados por valores bem superiores.

Autonomias para cidade e arredores

Quanto mais pequeno é um veículo, mais difícil é instalar um pack de baterias mais generoso na sua plataforma, mas esta realidade de La Palisse é aqui colocada à prova. Sucede que o modelo com maior distância entre eixos é igualmente o que tem o pack mais acanhado, uma vez que o Twingo Electric tem os dois eixos separados por 2,492 m, mas a sua bateria fica-se pelos 22 kWh de capacidade. Curiosamente, o 500e, o mais curto entre rodas, consegue instalar um pack de 42 kWh nas versões mais sofisticadas e onerosas, mas na Action, a mais acessível, a bateria fica-se pelos 23,8 kWh, para conseguir um preço mais convidativo. O Dacia, produzido na China, tem 2,423 m e uma bateria de 26,8 kWh, e é esta maior capacidade que explica que possa percorrer 225 km em WLTP. Uns pontos acima dos 190 km do Renault e dos 180 km do Fiat, ele que com a bateria “grande” atinge 320 km entre recargas.

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Se o 500e e o Spring Electric usufruem de plataformas novas (o italiano de uma solução específica para veículos eléctricos e o modelo romeno uma profundamente adaptada para este fim), o eléctrico francês tinha à partida a limitação de ter nascido para motores a combustão, apesar de prever uma versão eléctrica com uma bateria muito pequena, com a Smart, que utiliza esta base no ForFour, a não querer ir mais longe. A Renault ainda “esticou” a capacidade de 18 kWh do modelo da Daimler para os seus 22 kWh mas, ao que parece, no actual estado de evolução, não é possível ali instalar acumuladores com capacidade superior.

Tudo acerca do Fiat 500 eléctrico mais barato. Incluindo o preço

Em termos de carga, o Fiat e o Dacia podem recarregar em DC (corrente contínua, através dos carregadores de carga rápida), o primeiro com potências de 50 kW e o segundo de 30 kW. Isto enquanto o Renault está limitado a AC (corrente alterna), a 22 kW, mas esta é uma limitação só aparente. É certo que tardará mais tempo a “alimentar” a bateria, mas o futuro passa por existir uma maior disponibilidade de postos de carga intermédia nas cidades, todos eles em AC, onde o Fiat está limitado a 11 kW e o Dacia a 7,4 kW.

O emotivo, o SUV e o racional

Também há diferenças nas motorizações adoptadas, com o Fiat a ser o mais potente, ao anunciar nesta versão Action um motor com 95 cv e 225 Nm (ainda assim longe dos 118 cv utilizados pelas restantes versões Passion e Icon, uma vez que a la Prima é específica para o lançamento). O Twingo Electric instala um motor com 82 cv e 160 Nm, deixando a motorização mais calma para o Dacia, que se fica por apenas 44 cv e 125 Nm de “força”.

Face à diferença nas potências, não é de estranhar que exista alguma separação na “personalidade” dos três eléctricos, com o Fiat a ser nitidamente o mais ágil do lote, como prova o facto de tardar 9,5 segundos de 0-100 km/h. O Twingo a bateria atinge a mesma velocidade após 12,9 segundos, para o Spring não ter ainda um valor anunciado, mas que não deverá ficar abaixo dos 16 segundos.

Twingo Electric custa menos 10.000€ que o Renault Zoe

Na velocidade máxima, as diferenças são menos evidentes e tudo porque estão limitadas electronicamente para não beliscar a autonomia. Tanto o Fiat como o Renault só aceleram até aos 135 km/h, para o Dacia estar limitado a 125 km/h. E este tem ainda uma limitação adicional, ao utilizar um modo de condução Eco que lhe limita a potência do motor para 31 cv e a velocidade para 100 km/h.

Twingo mais barato que 500e, mas atenção ao Spring

As primeiras unidades do Twingo Electric vão começar a chegar ao nosso país ainda este ano, para as entregas arrancarem logo no início de Janeiro. Como o configurador já está disponível, é fácil constatar o leque de equipamento que o mais pequeno dos Renault oferece, bem como o preço, que é de 22.200€ na versão Zen. Se aqui subtrairmos os 3000€ de incentivos atribuídos pelo Governo a particulares, o eléctrico francês é proposto abaixo da fasquia dos 20 mil euros, o que é sempre uma boa notícia.

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O Fiat 500e chega ao nosso país ainda em 2020, mas exclusivamente na versão la Prima. O Passion e o Icon estarão disponíveis no início de 2021 e o Action, o mais acessível da gama, ainda durante o primeiro trimestre, provavelmente Fevereiro. Proposto por 23.800€, o 500e é mais um modelo que vai ser comercializado por 20.800€ após incentivos, o que vai abrir o leque dos potenciais interessados. Para tirar a limpo o equipamento incluído de série, bem como os opcionais, o configurador da Fiat esclarece todos os pormenores.

A grande incógnita é o Dacia Spring Electric. Vai poder ser encomendado a partir da próxima Primavera, para depois começar a ser entregue aos condutores nacionais no Outono e, a fazer fé nas garantias que a Dacia avançou em alguns mercados, “claramente abaixo da concorrência”, inclusivamente do Twingo. Isto aponta para um valor entre os 15.000€ e os 20.000€, o que pode tornar o eléctrico da Dacia na nova referência dos modelos a bateria. Argumento que tem funcionado bem para a marca romena no Sandero e no Duster.