Se as empresas farmacêuticas estão numa corrida para serem as primeiras a terem uma vacina contra a Covid-19, os governos de vários países correm para ficarem com as primeiras doses das vacinas. Os países mais ricos (União Europeia incluída) já conseguiram assegurar o fornecimento de 3,73 mil milhões de doses de vacinas que ainda não existem (nem se sabe se vão ser aprovadas) e estão a negociar mais cinco mil milhões de doses. O resultado é que os países mais pobres não vão conseguir ter acesso às vacinas antes de 2024, noticia o jornal The Guardian.
Nunca como agora houve uma necessidade tão grande de produzir um medicamento em larga escala e as empresas têm-se esforçado para prepararem os centros de produção. Ainda assim, podem levar três ou quatro anos a conseguir produzir vacinas suficientes para vacinar toda a população mundial. As reservas já feitas ou em curso significam, no entanto, que os países mais ricos vão conseguir vacinar os cidadãos várias vezes antes sequer de uma vacina chegar as países mais pobres, revela um relatório do Centro de Inovação de Saúde Global, da Universidade Duke, citado pelo jornal britânico.
O relatório, criado como um aviso para o que poderá acontecer, pode também desencadear a procura de soluções, como o aumento da capacidade de produção das farmacêuticas ou que os países mais ricos acedam a partilhar as doses que têm em excesso com os países mais necessitados.
A estratégia da OMS que está aquém do esperado
A Organização Mundial de Saúde (OMS), que tem sempre apelado à solidariedade e equidade, criou o programa Covax para garantir que os Estados signatários têm um acesso equivalente às vacinas — primeiro para os profissionais de saúde e forças de segurança e depois para 20% da população. Para muitos países de baixo e médio rendimento é tudo o que vão conseguir nos primeiros meses (ou anos).
Os países ricos, por outro lado, além de serem signatários do programa Covax também estabeleceram acordos unilaterais com as empresas. O que significa que menos doses estarão disponíveis para o Covax. A OMS ainda só conseguiu comprar doses suficientes para 250 milhões de pessoas, quando o objetivo era chegar a 1,14 mil milhões de pessoas.
Outro problema para os países de baixo rendimento enfrentam são as condições de armazenamento das vacinas — seja a necessidade de muito frio ou de muito calor — pois não têm condições para manter as vacinas viáveis, muito menos nos locais mais remotos. A vacina da Johnson & Johnson, por exemplo, que poderia ser armazenada à temperatura de um frigorífico normal, já tem as primeiras doses vendidas aos países mais ricos.