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Morreu Cruzeiro Seixas, o artista que viu no Surrealismo a única revolução

Este artigo tem mais de 3 anos

Foi um dos embaixadores do Surrealismo português, Artista plástico, poeta, inconformado, visionário, morreu no Hospital Santa Maria, em Lisboa, aos 99 anos.

Cruzeiro Seixas abraçou o movimento surrealista em 1949 — e nunca mais o deixou
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Cruzeiro Seixas abraçou o movimento surrealista em 1949 — e nunca mais o deixou

Tiago Petinga/LUSA

Cruzeiro Seixas abraçou o movimento surrealista em 1949 — e nunca mais o deixou

Tiago Petinga/LUSA

Morreu Artur do Cruzeiro Seixas, um dos fundadores do Surrealismo português, a menos de um mês de completar 100 anos. “É com pesar que informamos que o Mestre Cruzeiro Seixas faleceu hoje, 8 de novembro de 2020, no Hospital Santa Maria, Lisboa”, informou a Fundação Cupertino de Miranda, lamentando “profundamente a perda deste vulto da Cultura Nacional”.

A fundação que “apoiou e acompanhou ao longo dos anos” o trabalho de Cruzeiro Seixas, prestou homenagem no Facebook ao legado de um dos embaixadores do projeto surrealista, que o artista abraçou em 1949 “e não mais o abandonou até a atualidade”. Um ano antes, em 1948, manteve “um continuado contacto com o Mário Cesariny e outros membros do futuro grupo Os Surrealistas, de que é figura importante”, a par de Mário Cesariny, Alexandre O’Neill, António Maria Lisboa, Fernando José Francisco, Pedro Oom, entre outros.

Cruzeiro Seixas, que frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio (1935-1941), ainda se sentiu “atraído pelo Neo-realismo (1945-1946)”, só que “as inquietações plásticas e os desejos de libertação estéticos e ideológicos conduziram-no para o Surrealismo”, escreveu a Fundação Cupertino de Miranda.

“Pergunto-me todos os dias se ainda vale a pena viver”

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O artista era “detentor de um acervo pessoal constituído por cartas, postais, cadernos manuscritos, fotografias, desenhos, catálogos, serigrafias, colagens, pinturas, entre outros”. Mas foi no desenho que se destacou, desenvolvendo “com grande perícia técnica um universo muito pessoal”, representando “um universo imaginário ‘estranho e cruel’ através de contrastes entre pretos e brancos”.

A fundação recorda que, em 1951, Cruzeiro Seixas alistou-se na marinha mercante, “viajando por África, Índia, Extremo Oriente” e acabando por ficar em Angola “até ao desabrochar da guerra colonial”. É naquele país que “‘desenvolve o gosto pela dita ‘arte primitiva'”. Foi também em África que o artista escreveu a grande maioria dos seus poemas, reunidos anos mais tarde em três volumes, publicados pela editora Quasi, com edição de Valter Hugo Mãe. A Porto Editora encontra-se neste momento a recuperar esses livros (o primeiro saiu em julho passado).

Valter Hugo Mãe sobre Cruzeiro Seixas: “A poesia sempre lhe importou muito mais do que parece”

Em 2016, numa grande entrevista ao Observador, a propósito do documentário “As Cartas do Rei Artur”, de Cláudia Rita Oliveira, o artista questionava-se se valia a pena viver e falava do Surrealismo como única revolução. Abordou ainda a relação com Mario Cesariny e a falta de reconhecimento que sentiu: “Fui muitíssimo maltratado”.

Cruzeiro Seixas foi condecorado, no passado mês de outubro, com a Medalha de Mérito Cultural. Na altura, a ministra da Cultura, que entregou pessoalmente a condecoração ao artista durante uma cerimónia realizada na Biblioteca Nacional de Portugal, considerou-a “um reconhecimento institucional, mas é também um reconhecimento pessoal”. “O que hoje entregamos há muito era sabido por quem o leu e por quem observou o universo interminável da sua obra: que o seu é um dos grandes nomes da cultura portuguesa”, afirmou Graça Fonseca.

Valter Hugo Mãe lembra o “querido amigo” e o “mestre genial”

O escritor Valter Hugo Mãe reagiu, no Facebook, à morte de Cruzeiro Seixas, um “querido amigo” e um “mestre genial”. “Tão rente de completar 100 anos de idade. Tão farto que o impedissem de receber visitas. Tão farto de pandemias e de cegar. Não via sentido em cuidar-se porque não podia mesmo esperar por mais nada senão morrer”, escreveu Hugo Mãe, admitindo ter conhecido “poucos como ele”.

Valter Hugo Mãe conheceu o artista no início dos anos 2000, quando preparou a edição da poesia completa de Cruzeiro Seixas, que saiu em três volumes pela já desaparecida Quasi, onde então trabalhava. Uma imagem que lhe ficou na memória das visitas que fez à casa da Rua da Rosa foi a de ver “a poesia em cima do telefone. Havia uma espécie de estante corrida ao longo da parede [e] o telefone estava ali pousado”, contou recentemente numa entrevista dada ao Observador, a propósito da reedição da poesia de Cruzeiro Seixas pela Porto Editora.

“Isto significa que havia no Cruzeiro uma perceção de que talvez um dia alguém se lembrasse de procurar aquilo, e isso talvez também justifique a sua alegria. Aquilo estava ali sem ter uma lógica, mas estava perfeitamente conservado, depositado.”

No post do Facebook, Hugo Mãe descreveu o artista como “generoso, de verdade genial, um deslumbrante criador de imagens, de sonhos e pesadelos. Levarei para sempre uma infinidade de encontros e de conversas. Levarei para sempre o carinho e o fascínio”.

Em comunicado a Porto Editora, recordou Cruzeiro Seixas como “um dos nomes incontornáveis do movimento surrealista, do qual foi um dos principais precursores em Portugal”, referindo o seu “vasto trabalho” no campo das artes plásticas, mas também na poesia.

Artigo atualizado pela última vez às 12h45 de 9/11

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