Os diretores escolares consideram que as escolas superaram as expectativas na adaptação às medidas de segurança sanitária, impostas devido à pandemia de Covid-19, e asseguram que cada uma continua esse trabalho com o aproximar do inverno.

O ano letivo 2020/21 começou de maneira diferente, com novas regras e medidas de segurança para evitar a propagação do novo coronavírus, mas a pouco mais de um mês do final do 1.º período os representantes dos diretores escolares fazem um balanço positivo.

“[Em setembro] havia vozes pessimistas que nos diziam que passados poucos dias do arranque do ano letivo as escolas iam fechar. Não é isso que está a acontecer e eu acho que as escolas estão a superar, até ao momento, as expectativas”, disse à Lusa o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).

Recordando os primeiros dois meses do ano letivo, Filinto Lima assegura que as escolas estão a cumprir as orientações da tutela e das autoridades de saúde, deixando elogios também aos alunos que, pelo menos dentro do espaço escolar, têm demonstrado ter “uma consciência cívica em relação às novas regras”.

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“Tomara eu, enquanto diretor, que a sociedade lá fora cumprisse as regras e os procedimentos que nós obrigamos a cumprir cá dentro [das escolas], sublinhou.

Partilhando esta opinião, Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), afirma que as escolas estão a tentar aplicar, sempre que possível, “todas as normas possíveis e imaginárias” para que as escolas continuem a ser um espaço seguro e, por isso, o esforço de adaptação não foi apenas inicial, mas é contínuo.

Com o aproximar do inverno, algumas soluções que muitas escolas implementaram deixam agora de ser possíveis, designadamente manter as janelas das salas abertas durante o tempo de aula ou privilegiar os espaços ao ar livre para os alunos passarem o intervalo, mas os diretores asseguram que a próxima estação não será um problema.

“Estamos a usar aquela regra fundamental que é o bom senso. Em todas as circunstâncias tentamos pôr em prática o bom senso”, afirmou Manuel Pereira, que é também o diretor do Agrupamento de Escolas de Cinfães.

Entre as alternativas, aponta os horários de intervalo desfasados, que permitem reduzir o número de alunos em simultâneo fora das salas de aula, ou o recurso a estruturas temporárias montadas nos espaços exteriores da escola.

“Na escola onde trabalho, foi montada uma tenda com 300m2 que é mais um espaço coberto onde os alunos podem estar em dias de chuva para terem mais espaço e não estarem tão juntos”, referiu como exemplo, sublinhando que “cada escola encontrou a melhor solução”.

No mesmo sentido, Filinto Lima da ANDAEP reafirma a autonomia das escolas para decidir sobre o que é melhor em cada contexto, e afasta a necessidade de novas orientações da Direção-Geral da Saúde para ajudar os diretores a tomar essas decisões.

“Terá de ser cada diretor, de acordo com o seu edificado, a adaptar-se à nova realidade temporal“, disse, exemplificando que, a respeito das janelas, se antes era possível que ficassem abertas durante todo o tempo da aula, agora passam a abrir-se só durante os intervalos para arejar a sala.

Além de se adaptarem às novas medidas de segurança sanitária, cada escola teve também de se ajustar para corrigir alguns dos problemas criados pela interrupção do ensino presencial em março e a sua substituição pelo ensino a distância que vigorou até ao final do ano letivo passado.

Inicialmente, o Ministério da Educação tinha apontado as primeiras cinco semanas do novo ano letivo para recuperar e consolar aprendizagens perdidas pelos alunos durante o ensino à distância, recomendando mais tarde que as escolas optassem por fazer esse trabalho ao longo de todo o ano.

Segundo os diretores escolares, também aqui as respostas divergem de escola para escola e se algumas aproveitaram para fazê-lo nas primeiras semanas, outras seguiram caminhos diferentes.

“Foi atribuída autonomia às escolas para que fizessem o melhor e para que arranjássemos a melhor estratégia para recuperar e consolidar as aprendizagens. Algumas já o fizeram, outras estão a fazê-lo e irão fazê-lo ao longo do ano, sobretudo no início de cada conteúdo programático”, explicou o presidente da ANDAEP.

Diretores preocupados com falta de docentes pedem medidas para criar atratividade

Os diretores escolares também estão preocupados com a falta de professores em muitas escolas, um problema que consideram ser ainda mais grave pelo contexto pandémico atual, e pedem medidas para tornar a profissão mais atrativa.

A pouco mais de um mês do final do 1.º período, continuam a faltar professores em algumas escolas e apesar de o problema ter vindo a marcar o início de sucessivos anos letivos, para os representantes dos diretores escolares é cada vez mais grave.

Está a ser um ano preocupante em relação à falta de professores no sistema educativo nacional, agravado pela existência do momento que estamos a atravessar, mas mesmo não existindo a pandemia acho que este problema iria falar-se durante este ano letivo”, lamentou o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).

Em declarações à Lusa, Filinto Lima explicou que o problema tende a agravar-se, ano após ano, em função do envelhecimento da classe docente e que, por isso, é necessária uma resposta urgente.

“Sabemos que nos próximos 10 anos 58% dos atuais professores que estão efetivos vão aposentar-se”, referiu, alertando que se não forem tomadas medidas para captar novos professores as escolas arriscam-se a voltar a um tempo em que os docentes tinham as habilitações mínimas.

Também o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) se manifestou preocupando com a situação instando o Governo a criar condições para tornar mais atrativa a profissão.

“Não há uma política de motivação ou de incentivo para que os jovens que vão para a universidade queiram escolher a opção Educação, isso é um grave problema. É preciso criar condições para que os jovens queiram ser professores”, defendeu Manuel Pereira.

Além destas, que permitem resolver o problema a longo prazo, o representante dos diretores escolares lembra que também é preciso criar incentivos no imediato para que os profissionais disponíveis noutras zonas do país aceitem ser colocados nas zonas de Lisboa e Algarve onde, segundo o presidente da ANDE, continuam a faltar centenas de professores.  

Na semana passada, a secretária de Estado da Educação, Inês Ramires, revelou que o número de professores que não aceitaram horários aumentou este ano quase 70% em relação ao ano anterior e o ministro, Tiago Brandão Rodrigues, reconheceu que o Governo está preocupado com a situação.

Para Filinto Lima, que concorda com a necessidade de melhorar as condições da carreira docente, para motivar os professores que já estão no sistema e para atrair jovens para os cursos do ensino superior, este não deve ser visto apenas como um problema deste executivo.

“Não é um problema deste Ministério da Educação, não é. É um problema nacional e nós não devemos permitir politiquices para o resolver”, afirmou, pedindo aos partidos que se juntem para implementar as medidas estruturais necessárias.