Centenas de empresários do setor da restauração, hotelaria, comércio e cultura manifestaram-se esta quarta-feira junto à Assembleia da República, em Lisboa, para reclamar a falta de apoio do Governo a estes setores, bem como as medidas de restrição aplicadas face à pandemia. Caso não sejam ouvidos, admitem avançar com uma greve de fome.

Entre as reivindicações do “Movimento Sobreviver A Pão e Água”, está o apoio a fundo perdido, a isenção da Taxa Social Única até ao final de 2020, a redução do IVA da restauração para 6% e o fim do recolher obrigatório aos fins de semana a partir das 13h — medida que no último fim de semana (dias 21 e 22 de novembro) causou quebras de 76% no retalho e restauração, de acordo com dados da Associação de Marcas de Retalho e Restauração.

Há cerca de duas semanas, António Costa afirmara, aquando do anúncio do recolher obrigatório durante as tardes de sábado e domingo, que estas medidas seriam “péssimas para a restauração e para o comércio e muito duras para todos”. No entanto, eram, dizia, “necessárias e essenciais”, uma vez que o foco é “conter a pandemia e salvar o Natal”.

Em declarações à RTP3, José Gouveia, um dos organizadores do protesto, relembrou que “110 mil postos de trabalho se irão perder até janeiro” e que, devido à falta de apoios, os trabalhadores “não terão Natal”.  Para “endurecer a luta”, José Gouveia admite que será feita uma greve de fome.

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Vamos fazer greve de fome. Deixar de comer hoje ou deixar de comer daqui a quatro meses ou cinco é igual, por isso vamos começar já a fazer o ensaio do que será a fome em Portugal se a economia continuar a ser gerida desta forma”, afirmou.

À Rádio Observador, José Gouveia afirma que há dois “pedidos imediatos”: o apoio financeiro a fundo perdido e a “devolução dos horários” de funcionamento. “Foi dado um dado muito recentemente onde a restauração contribuía 2% para o nível de contágio. Não faz sentido haver esta teimosia relativamente à restauração”, disse. O porta-voz do movimento garante que a restauração tem “espaços completamente higienizados, seguros, onde as pessoas podem jantar em segurança” e acusou ainda o primeiro-ministro e “o seu executivo” de não “perceberem nada” do setor da restauração e animação noturna.

Ljubomir Stanisic, chef e uma das figuras públicas que tem dado voz ao movimento, afirmou aos jornalistas que as “falsas promessas” do Governo estão a levar os empresários ao desespero.

Temos falsas promessas em tudo, dizem que nos deram dinheiro, mas ninguém nos dá nada. O que nos dão são empréstimos bancários e nós não queremos agora estar a pedir dinheiro. Simplesmente queremos que nos deixem trabalhar, afirmou.

Também fazendo referência a um estudo citado pelo Partido Comunista Português, que indicava que apenas 2% dos contágios ocorriam na restauração, Ljubomir diz não entender o porquê de não poderem trabalhar e refere que é “importante” chegar a um “diálogo” com o Governo sobre as medidas, para o “bem de todas as pequenas e médias empresas” do país.

O chef relembrou ainda que “está a chegar a altura do Natal” e de “pagar o 13.º ordenado”, mas, neste momento, “não há nenhum empresário” que tenha dinheiro para tal.

Não há nenhum empresário da restauração, ou de bares ou de discotecas, que tenha dinheiro para pagar esse 13.º ordenado. Não há nenhum. Só se roubar, ou se tiver o privilégio de ter contactos com o Governo e receber algo que os outros não recebem”, afirmou.

A manifestação, que começou por volta das 15h30 e terminou cerca de três horas depois, juntou centenas de pessoas que traziam consigo tochas, panelas e diversos cartazes onde se podiam ler frases como “Ressuscitem a restauração”, “Os negócios também precisam de respirar” e “Estão a matar 100% dos restaurantes por 3% dos contágios”. Tal como já tem vindo a acontecer noutras manifestações do movimento, não faltaram caixões a simbolizar a morte do setor. No final, fez-se um minuto de silêncio em memória dos negócios que não resistiram às dificuldades provocadas pela pandemia de Covid-19.

A organização afirmou esta manhã, em comunicado, que para esta “grande manifestação de caráter nacional” eram esperados mais de 40 autocarros provenientes de vários pontos do país. Esta quarta-feira prometeram continuar a manifestar-se todas as semanas até serem ouvidos pelo Governo.