Os resultados do terceiro trimestre dos bancos portugueses evidenciam uma “ligeira recuperação” das receitas, mas também “elevados encargos” com provisões e imparidades, que poderão agravar-se em 2021, refere esta segunda-feira a agência DBRS.

Numa nota de análise ao desempenho do BCP, CGD, Novo Banco, Santander Totta, Banco BPI e Caixa Económica Montepio Geral (CEMG), a agência de notação financeira DBRS Morningstar atribui a evolução do terceiro trimestre à “retoma da economia resultante do aliviar das medidas de restrição e aos apoios dados pelo Governo português e pelas autoridades europeias”.

“Ainda assim, os resultados dos primeiros nove meses de 2020 foram mais baixos que os do período homólogo de 2019, refletindo o impacto das medidas de confinamento, particularmente no segundo trimestre”, refere, precisando que “as receitas core (do negócio central) caíram 4% em termos homólogos acumulados, enquanto o total de provisões e imparidades mais do que duplicou”.

Até setembro, os bancos portugueses reportaram um prejuízo líquido acumulado de 43 milhões de euros, o que compara com um lucro líquido de cerca de 995 milhões de euros no mesmo período de 2019.

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Segundo a DBRS Morningstar, “todos os bancos reportaram resultados mais fracos e dois bancos – o Novo Banco e a CEMG — chegaram a setembro numa situação deficitária”.

“Embora a moratória sobre os empréstimos e a garantia do Estado continuem, por enquanto, a proteger a qualidade dos ativos da banca”, a agência considera que “o impacto da Covid-19 deverá tornar-se mais evidente a partir de 2021, à medida que forem sendo retiradas as medidas de apoio em vigor.

Analisando o desempenho da banca portuguesa no terceiro trimestre, a DBRS aponta o aumento das receitas totais na sequência da retoma económica pós-confinamento, com o resultado líquido de juros e de custos e de proveitos a aumentar 1% face ao trimestre anterior, impulsionado pelo maior volume de empréstimos com garantia do Estado e pelo novo programa de financiamento do Banco Central Europeu TLTRO III.

Ao mesmo tempo, as taxas e comissões aumentaram cerca de 3% face ao trimestre anterior.

No período, assistiu-se ainda à manutenção do crescimento das provisões e imparidades, que mais do que duplicaram até setembro face ao período homólogo de 2019 e, de julho a setembro, foram 30% mais altas do que no mesmo trimestre do ano anterior.

O aumento registado nos primeiros nove meses de 2020 refletiu em grande medida a necessidade de reforçar os níveis de cobertura devido à deterioração do ambiente económico motivada pela Covid-19 e à atualização dos modelos de crédito dos bancos. Ao mesmo tempo, o stock de crédito malparado (NPL — Non Performing Loans) diminuiu 7% em termos trimestrais”, refere.

E se, “por enquanto”, a DBRS considera que as moratórias e as garantias do Estado “continuam a proteger a qualidade dos ativos dos bancos” em Portugal — no primeiro semestre de 2020 cerca de 22% do total de empréstimos das empresas beneficiavam de moratórias, um dos níveis mais elevados em toda a Europa — o facto é que o “afrouxar” das medidas de apoio a partir de 2021 deverá levar a um aumento dos incumprimentos e do crédito mal parado.

“Algumas das moratórias terminaram no terceiro trimestre de 2020, mas a maior parte irá prolongar-se durante o quarto trimestre e ao longo de 2021”, nota a DBRS, avançando que, “em junho de 2020, o rácio de malparado dos empréstimos sob moratória em Portugal era de 5%, o que compara com a média europeia de 2,5%”.

Para a agência, os setores mais vulneráveis são os relacionados com a indústria do turismo, que “é um dos pilares da economia portuguesa, nomeadamente os hotéis, restauração e transportes”.

Os ratings da DBRS Morningstar para os bancos portugueses são os seguintes: Santander Totta rating A com perspetiva “estável”; CGD rating BBB com perspetiva “negativa”; BCP rating BBB (baixo) com perspetiva “negativa”; Novo Banco rating B (alto) com perspetiva “negativa” e CEMG rating B com perspetiva “negativa”.