O candidato presidencial André Ventura esteve esta manhã em direto na Rádio Observador a ser entrevistado. Começou por dizer que “sente” que foi Deus que lhe confiou a a “missão de transformar” o país e que o crescimento rápido do Chega foi um “milagre da ascensão política”. O candidato presidencial diz mesmo que não tem medo de “falar de Deus” e que não acha que falar de Deus “viola a laicidade do Estado”.
“Falar de Deus dá-me força, motivação, convicção, e isso mostra às pessoas que a nossa força é autêntica. Podia não falar de Deus mas não era a mesma coisa, se eu acho que é Deus que me dá esta força porque não? Não tenho medo de falar de Deus nem da fé, e acho que devemos ter uma Europa de matriz cristã. Sinto que Deus me colocou neste caminho, porque sou uma pessoa de fé”, diz.
Para Ventura, “uma coisa é falar de Deus, outra coisa é dizer que sou o representante da igreja católica ou evangélica”.
Ouça aqui a entrevista na íntegra.
Questionado sobre a lei da rolha no partido, Ventura diz que não é só o seu partido que atrai pessoas “indesejáveis”. “Todos atraem, imagino que o PSD não esteja muito orgulhoso de ter tido Duarte Lima. Ou o PS de ter tido Armando Vara”, diz, admitindo que os militantes que foram afastados do Chega foram afastados por queixas de difamação.
“Foi por chamarem aos outros criminosos sem base em evidência, ou por denegrir a família, chegámos a ter ofensas às famílias por não serem portuguesas”, diz, explicando o porquê de ter afastado membros do partido por má conduta.
Sobre o governo dos Açores e um eventual governo de direita na República, André Ventura insiste que não está à procura de lugares, e que “o Chega só fará parte de um governo se for um governo de rutura e não de sistema”. “Se o governo não aceitar isso, boa sorte, façam maioria com a Iniciativa Liberal”, diz, sugerindo com isso que não aceitará apoiar um governo de direita liderado pelo PSD se o PSD não aceitar encabeçar um governo de “rutura”.
Nos Açores foi diferente, diz, porque nos Açores não havia “outra hipótese” — era isto ou o PS continuar no governo. E nos Açores não há a possibilidade de transformar a lei, isso só se faz no Parlamento nacional. Por isso, nos Açores o Chega “confia que o acordo com o PSD/CDS vá ser executado” e, se não for ,”saímos do acordo”.
Mas no plano nacional será diferente e aí o Chega exige lugares no Governo para executar mudanças na lei, nomeadamente na Segurança Social: “Se querem conseguir um governo de direita há matérias que têm de ser reguladas, e aí não confiamos noutros ministros a não ser nos ministros do Chega”, diz.
André Ventura insiste ainda que se vai “demitir” se ficar atrás da candidata Ana Gomes na corrida presidencial. “Demitir-me-ia porque nesse caso acho que não fiz um bom trabalho. É impossível ficar atrás da Ana Gomes e fazer uma boa campanha eleitoral, a não ser que o PS mude e a apoie. Os políticos vivem de resultados, e se eu tenho como meta ficar atrás do atual PR e ir à segunda volta, se ficar atrás de Ana Gomes fiz um mau trabalho”, diz.
Sobre o caso da morte de um cidadão ucraniano no SEF, André Ventura é questionado sobre o que é que fez para apurar responsabilidades nos últimos nove meses e limita-se a dizer que “ontem inquiriu o ministro da Administração Interna” e que questionou o MAI sobre o “botão de pânico” há duas semanas. “Não tentem agora passar a culpa para os partidos da AR, o governo é que sabia o que é que tinha acontecido”, diz, criticando o caso mas sublinhando que não é a extinção do SEF que resolve os problemas.
Questionado sobre se defenderia que a vacina da Covid-19 fosse obrigatória, Ventura disse que não. “Não estamos num ponto em que a vacina deva ser obrigatória”, disse, admitindo no entanto que, no caso geral da vacinação, haja exceções para as vacinas infantis, tal como existe em Portugal. “Penso que não haja nenhum país da UE em que a vacina [da Covid] seja obrigatória”, disse.
Na reta final, uma pergunta ainda sobre a mudança repentina de voto na proposta de alteração do Orçamento do Estado sobre as transferências para o Novo Banco. André Ventura voltou a explicar que só mudou o voto depois de o PSD lhe ter dado a garantia de que, se a auditoria provasse que não houve falhas na gestão, o contrato seria cumprido e a verba seria transferida, nem que fosse através de um orçamento retificativo.
Sobre a TAP, contudo, atacou os partidos da esquerda por não quererem levar o plano de reestruturação ao Parlamento: “Não querem vincular-se a despedimentos, é a cobardia política na sua maior expressão”.