Marcelo Rebelo de Sousa revelou os seus planos e cuidados para a quadra natalícia, mas há especialistas que criticam o exemplo “errado”. Por outro lado, há quem acredite que a alternativa encontrada pelo Presidente da República, anunciada numa entrevista à TVI, é uma “solução feliz”.
Entrevistado na qualidade de candidato às eleições presidenciais, Marcelo Rebelo de Sousa explicou esta segunda-feira que celebrará o Natal ao longo de quatro dias, dividindo-se entre os diferentes agregados familiares. Segundo Marcelo, as festividades começam no dia 23 ao almoço com o lado brasileiro da sua família, que “como são ligeiramente mais do que cinco, ficam em duas mesas, não mais do que cinco em cada mesa, espaçadas”, num restaurante. Já o jantar é na companhia dos irmãos e cunhadas, com um total de cinco pessoas. A ceia de Natal é dedicada “à outra parte da família: cinco [pessoas]”. No dia 25 o Presidente não faz nenhuma refeição acompanhado, sendo que o 26 ainda está “com dúvida”, uma vez que “da família portuguesa são sete [pessoas]”, o que excede o “ideal” à mesa.
Para mim, o número ideal para estar sentado à mesa são cinco [pessoas], mas admito que na Europa está entre oito e 12, 10 em média, enfim. Eu tento dar o exemplo, respeitar os confinamentos, [vou] sair daqui à hora que vou sair daqui para comer qualquer coisa, mas já vou comer onde for dormir.”
Marcelo apelou ainda a que os portugueses “não estraguem aquilo que se está a fazer”, pedindo que “façam um esforço para não estragar.”
Em declarações ao Expresso, porém, Ricardo Mexia, epidemiologista e presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, explica que “não deveria haver esse grande contacto com tanta gente”: “Essa não é a ideia, não é isso que temos recomendado às pessoas”. Para o especialista “devemos reduzir o número de pessoas com quem estamos em cada momento, mas em simultâneo devemos reduzir também o total de pessoas com quem interagimos”, alertando para que, caso uma pessoa infetada esteja com outras pessoas, acabará por as colocar em risco.
Tendencialmente não deveria haver esse grande contacto com tanta gente. Essa não é a ideia, não é isso que temos recomendado às pessoas.”
Quanto aos planos de Marcelo, Ricardo Mexia fala do “exemplo” que é dado aos cidadãos.
As pessoas regem-se por aquilo que são as recomendações, mas também pelo exemplo, portanto podem entender que os exemplos que conhecem podem ser aplicados. Se multiplicarem esses contactos, poderemos vir a ter mais casos do que aqueles que infelizmente já vamos ter. Temos esta perceção que estes contactos familiares vão aumentar a incidência [de casos de Covid-19]. Multiplicando os contactos, o aumento da incidência acaba por ser potencialmente maior.”
Já o médico de Saúde Pública Bernardo Mateiro Gomes é um pouco mais assertivo nas críticas que deixa à proposta do Presidente da República: “É errada, absolutamente errada”. Para o profissional de saúde, há três regras fundamentais de combate ao vírus que devem ser seguidas esta época natalícia.
Fazer uma dieta social antes do jantar para tentar reduzir o risco. Ou seja, sermos portadores do mínimo risco possível até à mesa da refeição; depois, não comparecermos se tivermos sintomas ou formos contactos de caso [confirmado]; finalmente, estar com o mínimo de pessoas possível e se possível dentro dos contactos habituais”.
Ao mesmo jornal, Mateiro Gomes disse ainda que o mais preocupante nos planos de Marcelo é o número de pessoas com quem vai contactar, aumentando a probabilidade de existir alguém infetado durante os convívios. “Há também o risco de uma possível infeção contraída no primeiro dia já se refletir nas refeições do final desse período de quatro dias”, explica.
É contraproducente. Acaba por acrescentar complexidade a uma circunstância que se quer simples, ainda por cima com um exemplo que é errado. Não tenho dúvidas disto. Quem está a controlar a doença no terreno espera ajuda da comunicação de quem tem palco mediático. É isso que esperamos”.
Por outro lado, ao jornal Eco o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) considerou o modelo uma “solução feliz”. Francisco George admitiu, inclusivé, que poderá adotar um plano semelhante.
É uma entre outras possibilidades. Eu mesmo vou seguir esse modelo, que é um modelo de estar um dia com uns, um dia com outros, nomeadamente com a minha filha num determinado momento e noutro momento distinto com o meu filho. E outro mesmo com os meus irmãos, exatamente como descreveu o Presidente”
Não sendo conhecidas as circunstâncias em que serão feitos os convívios dos agregados familiares de Marcelo, o presidente da CVP, que é também antigo diretor-geral da Saúde, destaca que o “problema central está na aglomeração em ambientes fechados de mais do que cinco pessoas”. Francisco George lembra ainda que existem alguns cuidados que podem ser tomados, como o desfasamento “da hora das refeições e das bebidas“, o uso de máscara “enquanto o outro come” e “manter a ventilação sempre em permanência, em equilíbrio com a temperatura ambiental”.