Domingo e segunda-feira foram marcados pela vacinação de profissionais de saúde contra a Covid-19, que a diretora-geral da Saúde disse estar a correr muito bem e com uma adesão elevada. Até ao final do dia de terça-feira, as 9.750 vacinas recebidas no dia 26 de dezembro deverão ter sido todas administradas, disse Graça Freitas na conferência de imprensa da Direção-Geral da Saúde. João Paulo Gomes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), também participou para falar sobre a nova variante do SARS-CoV-2 detetada no Reino Unido.

João Paulo Gomes confirmou que os 18 casos detetados no arquipélago da Madeira correspondem à variante britânica do SARS-CoV-2, embora tenha negado que um desses casos esteja ligado à região de Lisboa e Vale do Tejo, onde, diz, ainda não ter sido detetada esta nova variante. “Apesar de ter sido noticiado a existência de um caso associado a Lisboa e Vale do Tejo, essa informação não se confirma”, diz o investigador. “Todos os casos estão associados ao arquipélago da Madeira.”

Estes 18 casos agora detetados, ainda que na sua maioria estejam relacionados com um histórico de viagem ao Reino Unido, fazem com que Portugal seja o país com mais casos da nova variante a seguir ao Reino Unido, onde terá tido origem, refere João Paulo Gomes.

Não me vou admirar, naturalmente, que a variante já esteja a circular no continente também”, diz o investigador. “Isto não é particularmente preocupante para nós, é algo para o qual devemos estar preparados.”

E a preparação passa, também, por conseguir identificar por onde circula a variante. João Paulo Gomes diz que, neste momento, há duas pistas a seguir em relação à variante britânica: uma, logicamente, é o historial de viagem ao Reino Unido; outra, uma falha nos testes, que acabou por se tornar uma vantagem.

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“O Insa está a contactar os laboratórios onde os diagnósticos [positivos] foram efetuados para que os laboratórios enviem a amostra”, diz João Paulo Gomes. Ou seja, quem esteve no Reino Unido e testou positivo no regresso terá o seu vírus sequenciado no Insa para se verificar se se trata da nova variante ou não. Depois, a variante britânica parece ter uma particularidade: o teste diagnóstico não consegue detetar uma das regiões do vírus.

O Insa já começou a receber amostras do aeroporto de Lisboa e do aeroporto do Porto e já foi contactado por outros laboratórios que dizem ter amostras suspeitas — as tais com a falha na deteção. As amostras de vírus demoram cerca de quatro dias a sequenciar e João Paulo Gomes espera poder dizer, em breve, se a nova variante já está a circular em Portugal continental ou não. O investigador acrescenta ainda que o trabalho de vigilância na sequenciação genómica do vírus vai ser intensificado.

Graça Freitas: “A vacinação não dispensa as medidas de prevenção recomendadas”

“Os dois primeiros dias correram bastante bem e devemos estar satisfeitos com isso”, diz Graça Freitas. Devemos aproveitar as coisas boas que nos acontecem, destaca a diretora-geral da Saúde, e justifica que estas operações são muito complexas e que “vamos ter fases mais complicadas do que outras”. Esta é a primeira etapa, e a forma como o movimento nasce, é muito importante, destaca a médica.

Esta campanha de vacinação, com as fases que se seguem, pretende cumprir três objetivos fundamentais de Saúde Pública, que a médio prazo permitiram controlar a pandemia de Covid-19, disse Graça Freitas:

  1. reduzir a mortalidade e os internamentos;
  2. reduzir os surtos, principalmente em populações mais vulneráveis;
  3. minimizar o impacto da pandemia no sistema de saúde e na sociedade.

A diretora-geral da Saúde lembra, no entanto, que a Portugal, como aos outros países, “as vacinas vão chegar faseadamente ao longo de 2021” e “as pessoas serão vacinadas gradualmente até que toda a população seja abrangida”.

A vacinação será feita de acordo com critérios de prioridade, que são transparentes, fazem parte do plano de vacinação Covid-19 e vão sendo, obviamente, atualizados ao longo do tempo”, diz Graça Freitas.

Graça Freitas destaca ainda: “A vacinação não dispensa as medidas de prevenção recomendadas”. E elenca essas medidas: distância entre as pessoas, arejamento dos espaços, uso de máscara, higiene da mãos, etiqueta respiratória, respeito das restrições de mobilidade e de isolamento. Medidas que espera ver cumpridas também nas celebrações do Ano Novo.

Comemore o ano novo de preferência com as pessoas com quem coabita, mas se estiver com outros agregados familiares reforce os cuidados já referidos, em particular o distanciamento físico”, diz.

Graça Freitas alerta que as pessoas que tomaram agora a primeira dose da vacina terão de esperar algumas semanas para que a resposta imunitária seja suficiente para as proteger, o que, previsivelmente, só acontecerá depois da segunda dose. Além disso, a diretora-geral da Saúde alerta que algumas pessoas não vão produzir anticorpos porque a vacina não é 100% eficaz, ou seja, não vai desencadear uma resposta imunitária em todas as pessoas, nem sequer será igual em todas.

Quase 17.000 profissionais de saúde já foram infetados com o coronavírus em Portugal

Desde o início da pandemia em Portugal já foram infetados com o SARS-CoV-2 mais de 16.663 profissionais de saúde e cerca de 9.600 já recuperaram, informa Graça Freitas. Estes profissionais também vão ser vacinados, ainda que não façam parte dos grupos mais prioritários.

Entre os profissionais de saúde com contacto com doentes, os primeiros a serem vacinados foram os que trabalham em unidades de cuidados intensivos, unidades de transplantes, serviços de urgência e cuidados de saúde primários diretamente em contacto com doentes Covid-19.

Aqueles que já tiveram infetados podem não estar incluídos neste primeiro grupo, porque, à partida, já terão desenvolvido imunidade contra o vírus como resultado da infeção natural que tiveram. “Mas tudo isto é uma questão de semanas”, diz Graça Freitas. “No primeiro trimestre todos os profissionais de saúde serão vacinados.”

A diretora-geral da Saúde aproveita para lembrar que, “em Portugal, a vacinação é um ato voluntário, fortemente incentivado” e, como tal, “as pessoas podem exercer o direito a não ser vacinadas”. Ao contrário do que está planeado acontecer na vizinha Espanha, a decisão de não ser vacinado não ficará registado.

Graça Freitas assegura que a vacina contra a Covid-19 é equivalente às restantes que temos em Portugal, no sentido de não ser “um medicamento experimental”: “É uma vacina que está plenamente autorizada”. A vacina “não deixou de passar pelo crivo da Agência Europeia do Medicamento” em relação à qualidade, segurança e eficácia.