Morreu aos 85 anos o icónico chef e restaurateur Albert Roux, visionário que é considerado o principal responsável pela modernização da gastronomia do Reino Unido, sendo também o primeiro cozinheiro do país a ganhar uma, depois duas e a seguir três estrelas Michelin no seu igualmente famoso Le Gavroche.

Uma declaração emitida pela família e citada pela BBC confirma “a triste morte” do chef que, lê-se ainda, “estava doente há uns meses e morreu na passada segunda-feira, quatro de janeiro”. O mesmo comunicado diz que “Albert é creditado, junto com seu irmão Michel Roux, como os impulsionadores de uma revolução culinária em Londres, iniciada com a abertura do Le Gavroche em 1967” — apesar dessa opinião ser praticamente unânime no meio gastronómico inglês, basta ver o seu papel como formador de grandes cozinheiros como Gordon Ramsey, Marco Pierre White e Marcus Wareing, por exemplo.

Albert à porta do seu Le Gavroche.

Michel, o irmão e sócio de longa data, morreu há menos de um ano, com 78 anos, e foi sempre o seu braço direito. Juntos não só fundaram e levaram ao sucesso o já referido Le Gavroche mas também, em 1972, inauguraram o Waterside Inn, em Bray, que viria a ser outro poiso de excelência que mereceu igualmente o tri-estrelato em 1985. Este último mantém até hoje essa distinção enquanto o Le Gavroche atualmente tem apenas duas.

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Natural da região de Saône-et-Loire, em França, Albert nasceu a oito de outubro de 1935 e começou a treinar como aprendiz de “pâtissier” (pasteleiro) aos 14 anos. Depois de fazer o seu serviço militar na Argélia, trabalhou como sub-chef na embaixada britânica de Paris durante dois anos, antes de partir em definitivo para o Reino Unido. O seu primeiro trabalho na Grã-Bretanha foi como ajudante de cozinha, de acordo com a sua autorização de trabalho emitida na altura.

Só em abril de 1967, com apenas 3 mil libras de fundo de maneio e muitas dívidas, é que Albert e Michel abriram o reluzente Le Gavroche, no bairro de Chelsea. As suas paredes eram decoradas com pinturas emprestadas de autores como Chagall, Miró e Dalí. O seu menu estava cheio de mousses, reduções e emulsões, tudo sempre feito com os melhores produtos franceses que a família lhes enviava diretamente do mercado de Rungis, em Paris.

O igualmente lendário chef francês Pierre Koffman, que também viria a mudar-se para Londres uns anos antes dos irmãos Roux, afirma que “Albert e Michel fizeram parte de um grupo de chefs que mudou tudo”. Sobre Albert, em específico, aponta que “ele era extremamente fiel aos seus clientes, sabia cuidar deles e compreendia que um restaurante tem que ter não só a melhor comida, mas o melhor ambiente e o melhor serviço. Ele era um restaurateur brilhante. ”

O seu legado reside não apenas na educação do paladar britânico, mas também na longa linha de chefs com estrelas Michelin que trabalharam nos restaurantes Roux. Em 2013, conta o The Guardian, estimava-se que mais de metade dos restaurantes britânicos com estrelas Michelin eram liderados por discípulos dos Roux.

Gordon Ramsay prestou homenagem a Albert através de uma publicação na sua conta de Instagram onde diz ser “lastimável saber da morte dessa lenda, do homem que instalou a gastronomia na Grã-Bretanha”. O ultra mediático Ramsey escreve ainda: “Obrigado, Albert, por tudo que me deu. Deus o abençoe, chef.”

Albert Roux — a quem foi atribuída a condecoração da Excelentíssima Ordem do Império Britânico em 2002 e a de  “Chevalier da Légion d’honneur” em 2005 — naturalizou-se como cidadão britânico em 2015. Passou por três casamentos e atualmente era casado (desde 2018) com Maria Roux. Tinha dois filhos do seu primeiro casamento, Danielle e Michel Jr., o atual responsável pelo império gastronómico dos Roux.