O governo brasileiro não faz coisa por menos: depois de o regulador ter aprovado este domingo duas vacinas contra a Covid-19, o ministro da Saúde disse que o Brasil inicia na quarta-feira “a maior campanha de imunização” contra a covid-19 em todo o mundo.

Em conferência de imprensa, Eduardo Pazuello disse que, após a aprovação do uso das vacinas, o Ministério da Saúde começará a distribuir às 07:00 de segunda-feira em aviões militares as seis milhões de doses que o país já tem disponíveis, para que os 27 estados do país possam iniciar a imunização simultaneamente em todo o Brasil na quarta-feira.

Covid-19: Brasil autoriza uso de emergência das vacinas Sinovac e AstraZeneca

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O ministro anunciou o início da campanha alguns minutos após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter aprovado, por decisão unânime dos seus cinco diretores, a utilização de emergência das vacinas do laboratório chinês Sinovac e a desenvolvida conjuntamente pela empresa farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca e pela Universidade de Oxford.

“Este é o primeiro passo para iniciar a maior campanha de vacinação contra o coronavírus do mundo”, disse Pazuello, celebrando a decisão da Anvisa e observando que o Brasil tem um programa de vacinação consolidado que serve toda a população, capaz de vacinar até um milhão de pessoas por dia.

A decisão da Anvisa permite por agora a utilização de seis milhões de vacinas Sinovac importadas da China e que foram embaladas e rotuladas no Instituto Butantan em São Paulo e dois milhões de doses do imunizante AstraZeneca que o Brasil espera receber esta semana da Índia.

Embora Pazuello tenha anunciado o início da vacinação a nível nacional na próxima quarta-feira, o gabinete do governador de São Paulo antecipou-a e, num ato simbólico e também controverso, uma enfermeira da rede de saúde pública foi inoculada com a primeira dose da vacina ‘Coronavac’, tornando-se a primeira cidadã brasileira a ser imunizada contra o SARS-CoV-2 no país.

A vacinação precoce respondeu ao desejo do governador de São Paulo, João Doria, possível candidato presidencial em 2022 e rival político do Presidente, Jair Bolsonaro, de deixar claro que a produção da vacina chinesa no Brasil através de um acordo de transferência de tecnologia para o Instituto Butantan foi uma iniciativa sua.

“Isto é um triunfo da ciência, um triunfo da vida contra os negacionistas, contra aqueles que preferem o cheiro da morte à coragem e à alegria de viver”, disse Doria num duro discurso cheio de críticas a Bolsonaro, que desde o início da pandemia tem desvalorizado a gravidade da covid-19.

Jair Bolsonaro não comentou, até ao momento, a decisão da Anvisa.

Nas suas declarações à imprensa, Pazuello admitiu o seu desagrado pela vacinação da enfermeira em São Paulo e disse que este foi um ato com intenções eleitorais e que terá de ser resolvida pela Justiça.

“Poderíamos num ato simbólico ou numa manobra de marketing iniciar a primeira dose numa só pessoa, mas por respeito a todos os governadores, autarcas e todos os brasileiros, o Ministério da Saúde não o fará”, disse o ministro, afirmando que a vacinação começará simultaneamente em todo o país na quarta-feira.

Segundo o ministro, o governo de São Paulo cometeu um ato ilegal porque se apropriou de uma vacina pertencente ao governo federal do Brasil para ser utilizada num evento com fins eleitorais.

Acrescentou que o Ministério da Saúde adquiriu todas as vacinas que se encontram no Instituto Butantan e que assinou um contrato de exclusividade para que nenhuma das doses pudesse ser administrada no estado de São Paulo sem autorização.

O titular da pasta da Saúde declarou que o Governo distribuirá todas as vacinas adquiridas proporcionalmente entre os 27 estados do país, tendo em conta a percentagem de pessoas dos grupos prioritários em cada região.

O ministro disse também esperar a chegada ao Brasil esta semana dos dois milhões de doses de vacina de Oxford que foram compradas a um laboratório da Índia e cuja chegada teve de ser adiada devido à recusa do Governo indiano em permitir a exportação.

Pazuello explicou que a Índia iniciou a sua campanha de vacinação no sábado, no mesmo dia em que estava programado o envio das vacinas para o Brasil, e comentou que o seu governo compreendeu que esta coincidência não seria bem recebida no país asiático.

Esta resistência, referiu, atrasou em dois ou três dias a exportação das vacinas, pelo que espera que o Brasil possa recebê-las a meio da semana.

Com cerca de 210.000 mortos e 8,4 milhões de casos, o Brasil é o segundo país com mais mortes no mundo associadas à covid-19, depois dos Estados Unidos, e o terceiro com mais infeções pelo novo coronavírus, depois dos EUA e da Índia.