O caos voltou a instalar-se no maior hospital do país. E era visível da rua. Desde o início da tarde desta sexta-feira que várias ambulâncias têm estado à porta do Hospital Santa Maria. No seu interior, vários doentes ficam à espera para serem atendidos. A diretora do Serviço de Urgências da unidade hospitalar, Anabela Oliveira, fala em “sofrimento ético enorme”, assumindo que não há capacidade para receber tantos doentes.

“Todas as semanas este hospital tem criado novas enfermarias. E todas as semanas têm sido preenchidas. Enquanto profissionais de saúde, sentimos uma grande pressão, muito sofrimento, porque realmente esta não é a medicina que gostamos de fazer”, garante Anabela Oliveira em declarações ao Observador.

Também Daniel Ferro, presidente da administração do Hospital de Santa Maria, explicou a situação à SIC Notícias: “A procura é muito agravada, não só pelo volume de infeção que temos no país, como também pelo encerramento de urgências de outros hospitais”. Mas, assegura, todos os casos vão ser atendidos e “quem precisar de ser internado vai ser internado”.

Para fazer a triagem nas ambulâncias, há equipas médicas, que vão observar os pacientes ao exterior do hospital. “Procuramos naturalmente ir até dentro das próprias ambulâncias para conseguir separar os doentes em estado mais grave”, explica Daniel Ferro. Após isso, todos aqueles que apresentarem um quadro clínico crítico são levados para dentro do hospital. “É o que podemos fazer para minimizar no sentido de atender as pessoas por gravidade”, sinaliza.

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Segundo Anabela Oliveira, o momento que Portugal atravessa é o “mais crítico da pandemia”. “O país está num cenário de grande pressão, para a qual ninguém estava preparado”, afirma. E é taxativa sobre o que vai acontecer se continuar a existir esta pressão: “O SNS vai colapsar se continuarmos a ter estes números”.

Nas urgências, Anabela Oliveira revela que tem recebido cada vez mais “doentes Covid moderados a graves”, que não são apenas idosos: “Temos tido doentes dos 30 aos 80 anos”. E não só são pacientes com Covid-19 que têm ido às urgências da unidade hospital — continua a haver uma afluência elevada de doentes não urgentes. Para resolver este problema e para libertar recursos para doentes Covid, a diretora do serviço de urgências sugere que os pacientes deveriam ser “encaminhados para outras estruturas, mais aptas do que uma urgência polivalente”.

Anabela Moreira reconhece ainda que os profissionais de saúde têm “dado à pele” e “feito tudo o que está ao seu alcance” para controlar a situação. No entanto, isso não é suficiente: “Os recursos não são ilimitados, as camas também não, e é a montante que se tem de agir”. Para isso, a diretora do serviço de urgência deixa um apelo aos portugueses: “Cumpram as regras que estão preconizados no sentido de se evitarem os contágios”. “Esta é a única hipótese” de se retirar pressão ao SNS, pede Anabela Oliveira.