O frio que se fez sentir no fim de semana anterior foi combatido por muitos portugueses com o uso de lareiras, o que causou um “episódio de poluição particularmente grave” atribuído às partículas libertadas pelo uso de lenha para aquecimento em muitas zona urbanas. O alerta é feito pela associação ambientalista ZERO que sinaliza a Península de Setúbal e a região Norte do país como as mais afetadas.

Para esta situação, contribuíram as condições meteorológicas dos dias 16 e 17 de janeiro, marcados por vento fraco e por uma inversão da temperatura que limitou dispersão das emissões e partículas poluentes. De acordo com os dados disponibilizados no site da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) consultados pela ZERO, o valor-limite de partículas inaláveis (PM10) foi ultrapassado em cinco estações de monitorização de qualidade do ar. Os dois piores registos verificaram-se nas estações de Paio Pires no Seixal e em Estarreja.

Nessas estações foi igualmente superado” de forma significativa” o valor médio diário recomendado pela Organização Mundial de Saúde para partículas finas que é de 25 g por metros cúbicos, com níveis de acima dos 70 g por metro cúbico. A organização adianta que a qualidade do ar foi má na área metropolitana de Lisboa Sul, em particular nos concelhos de Almada, Barreiro e Seixal.

Já no Norte, onde a concentração de partículas terá sido maior devido às temperaturas mais baixas, a ausência de estações de medição operacionais não permitiu detetar o fenómeno porque não existiam dados disponíveis para as partículas em 21 estações. Segundo a ZERO, o “perfil das concentrações ao longo do dia é coincidente, entre as várias estações de monitorização, com um pico ao final do dia e início da noite, precisamente quando o aquecimento através de lareiras é mais utilizado”.

Os efeitos destas partículas são sentidas sobretudo ao nível do aparelho respiratório. As partículas em suspensão de maiores são normalmente filtradas, podendo estar relacionadas com irritações ao nível do nariz e das vias respiratórias superiores, e hipersecreção das mucosas. Mas as partículas mais finas são normalmente mais nocivas porque atingem os pulmões em profundidade e passam para a corrente sanguínea, causando e/ou agravando doenças respiratórias e cardiovasculares, e até cancro do pulmão.

A associação aponta responsabilidades à falta de políticas que alertem para os riscos de uso excessivo de lenha e pede soluções alternativas à queima ineficiente de biomassa e que devem começar pela sustentabilidade energética dos edifícios.

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