Há atletas que, no nosso imaginário, têm sempre a mesma camisola vestida. Jogadores que estiveram tanto tempo no mesmo clube, com o mesmo emblema ao peito, com as mesmas cores no equipamento, que já não se distinguem da equipa que representaram. O exemplo paradigmático será, quase sempre, Michael Jordan: que foi o melhor de sempre com os Chicago Bulls, que ajudou os Chicago Bulls a tornarem-se a melhor equipa que já atuou na NBA e que, nas nossas memórias, surge quase sempre vestido com a tradicional camisola vermelha e branca.
É por isto, por esta memória seletiva que todos temos, que por vezes nos esquecemos de que Michael Jordan acabou a carreira nos Washington Wizards. Simplesmente porque, para nós, Jordan jogou apenas nos Bulls — até porque a memória não permite que nos lembremos dele vestido de azul escuro. Em março de 2020, o futebol americano achou estar a assistir a uma história semelhante. Tom Brady, um dos melhores de sempre, ia deixar os New England Patriots onde estava há quase 20 anos e assinar pelos Tampa Bay Buccaneers, uma equipa com apenas uma vitória no Super Bowl e um registo vitorioso muito limitado. Seria como Jordan, pensou-se: nunca ninguém se irá recordar de que Brady, histórico número 12 dos Patriots, acabou a carreira nos Buccaneers. Mas ele fez questão de reescrever a história.
Going to his TENTH SUPER BOWL.
The one and only @TomBrady. ????@Buccaneers | #GoBucs pic.twitter.com/dJnleucDL3
— NFL (@NFL) January 25, 2021
Este domingo, os Tampa Bay Buccaneers venceram os Green Bay Packers na final da National Football Conference — ou seja, carimbaram o passaporte para o Super Bowl, agendado para o próximo dia 7 de fevereiro. Os Buccaneers tornaram-se assim a primeira equipa da história a marcar presença num Super Bowl no próprio estádio, já que a grande final está marcada para o Raymond James Stadium em Tampa, na Flórida, e Tom Brady, que continua a jogar com o número 12, tornou-se apenas o quarto quarterback da história a chegar à derradeira partida com duas equipas diferentes. O jogador de 43 anos, que terminou a final da Conferência com três touchdowns e três interceções, prolongou um recorde que já lhe pertencia ao chegar ao 10.º Super Bowl da carreira e pode alcançar o troféu pela sétima vez, depois dos seis títulos que conquistou com os Patriots.
Na final, os Buccaneers vão encontrar os Kansas City Chiefs, os campeões em título que contam principalmente com o quarterback Patrick Mahomes e que derrotaram os Buffalo Bills na respetiva final de Conferência. Depois de garantida a presença no Super Bowl, Tom Brady não quis assumir crédito pessoal pela vitória e garantiu estar “orgulhoso de todos, de toda a organização”. “Os nossos treinadores trabalharam e esforçaram-se tanto para nós chegarmos a este nível, prepararam-nos todos os dias e fizeram um trabalho fantástico. É uma equipa única. Temos uma grande química. Divertimo-nos a treinar (…)”, disse o norte-americano, atribuindo o mérito ao coletivo. Mas o treinador, Bruce Arians, tinha uma ideia diferente.
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“O importante foi a crença que ele criou em toda a gente nesta organização de que podíamos conseguir isto. Só precisámos de um homem”, disse o líder dos Tampa Bay Buccaneers, que há 19 anos venceram o Super Bowl ao derrotar os Oakland Raiders e desde aí não regressaram ao jogo mais importante do futebol americano. Arians defende que a equipa só precisou de um homem, Brady, mas a verdade é que Brady depressa percebeu que ia precisar de ajuda. Em abril do ano passado, o jogador de 43 anos foi o principal responsável pela ida de Rob Gronkowski para os Buccaneers: o tight end tinha terminado a carreira em 2019 depois de vários anos de uma parceria de luxo com Tom Brady mas decidiu pôr a reforma em pausa para regressar aos relvados a recuperar a dupla que tinha feito sucesso nos Patriots. Agora, novamente juntos, Brady e Gronkwoski vão à procura de mais uma vitória, mais um título e mais um parágrafo na história.
O adeus de Gronk, a alma da fiesta dos Patriots que teve um casamento perfeito com Tom Brady