Pedro Nuno Santos acredita que o PS cometeu um erro ao optar por não apoiar nenhum candidato nas eleições presidenciais de 24 de janeiro, deixando “a tarefa de defesa dos valores do socialismo democrático a Ana Gomes”, que “corajosamente defendeu quase sozinha a matriz” do ideário do partido. Ao fazê-lo, o partido “perdeu uma oportunidade para se bater no campo das ideias e dos valores”, “contribuiu involuntariamente para a afirmação do candidato da extrema-direita” e permitiu uma colagem ao centro através do apoio implícito à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa.

Num artigo de opinião publicado na edição deste domingo do jornal Público, o ministro das Infraestruturas e da Habitação defende que o PS não devia ter tentado “escapar a um confronto” com Marcelo Rebelo de Sousa e procurado evitar uma derrota que “só é boa para o partido no curtíssimo prazo”. Essa escolha teve “duas consequências negativas”, considera: “Por um lado, o PS perdeu uma oportunidade para se bater no campo das ideias e dos valores. (…) Por outro lado, ao evitarmos um confronto eleitoral com Marcelo Rebelo de Sousa, prejudicámos o saudável e democrático antagonismo dialético entre esquerda e direita”.

“Quando permitimos que a polarização entre democratas (sejam de esquerda ou de direita) e extremistas anti-sistema se substitua progressivamente à polarização entre esquerda e direita, facilitamos a vida a quem ambiciona ir além da “esquerda e da direita” na ideologia e nas políticas e tornamos o regime democrático mais frágil e instável por darmos palco a quem, sob a capa da defesa da ‘refundação’ da República, quer impor regressões civilizacionais nas nossas liberdades e intoxicar o nosso espaço público”, argumenta.

Na opinião de Pedro Nuno Santos, “se não tivesse surgido a candidatura de Ana Gomes, André Ventura teria muito provavelmente ficado em segundo lugar”. “Ora, ao ter optado por não marcar presença no debate político das presidenciais, o PS contribuiu involuntariamente para a afirmação do candidato da extrema-direita. Se tivesse apresentado um candidato próprio, o PS até poderia ter perdido a corrida eleitoral de 24 de janeiro, mas teria reforçado a polarização entre esquerda e direita e, com isso, a estabilidade da nossa democracia.”

O ministro considera ainda que ao permitir uma “colagem implícita” à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, “que o partido não apoiou explicitamente”, o PS permitiu que se tirassem “conclusões sobre o seu posicionamento político-ideológico, ao ponto de a reeleição reeleição do atual Presidente da República, político conservador e ex-líder do mais importante partido adversário do PS, servir para alguns defenderem um realinhamento do partido ao centro”.

“Pode haver quem acalente a ideia de transformar o PS num ‘partido do centro’, na expectativa de assim conseguir apoio eleitoral que permita o partido manter-se no poder”, mas Pedro Nuno Santos alerta que “tal estratégica” está “votada ao fracasso por toda a Europa”. Além disso, “representaria uma traição ao espírito socialista dos fundadores e dos milhares de militantes do PS”. O “partido não foi criado, nem existe apenas para estar no poder, mas, sobretudo, para transformar Portugal num país onde se vive bem em comunidade, onde trabalhadores são respeitados e as liberdades sociais e políticas aprofundadas”, defende o governante.

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