Em cerca de duas semanas, o número de inquéritos abertos pelo Ministério Público (MP) por utilização indevida da vacina contra a Covid-19 subiu de nove para 33, disse ao Observador fonte oficial da Procuradoria-Geral da República (PGR). Entre eles, estão casos de vacinação de responsáveis autárquicos de Lisboa, Portimão e Reguengos de Monsaraz.

Do total, grande parte é da área da Procuradoria-Geral Regional de Coimbra, que já instaurou uma dezena de inquéritos. Dos restantes, oito na área da Procuradoria-Geral Regional do Porto, oito na área da Procuradoria-Geral Regional de Évora e sete na área da Procuradoria-Geral Regional de Lisboa.

“Para além de situações anteriormente confirmadas, foram, designadamente, instaurados inquéritos relativamente a factos noticiados relativos a instituições particulares de solidariedade social de Castelo Branco, Farminhão, Resende e Trancoso ou relacionados com a vacinação de responsáveis autárquicos de Lisboa, Portimão e Reguengos de Monsaraz”, informa a PGR.

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O caso de Farminhão foi noticiado pelo Observador. Na Associação de Solidariedade Social de Farminhão, em Viseu, no dia 18 de janeiro, terão sido vacinados os dirigentes e outros funcionários não prioritários daquela associação, que tem a seu cargo um lar de idosos e uma unidade de cuidados continuados (duas estruturas prioritárias na vacinação). Ao todo, terão recebido a vacina nove pessoas, entre o presidente da direção, Duarte Coelho, a sua filha, que é vice-presidente, bem como a mulher, voluntária na cozinha.

O caso de Reguengos de Monsaraz foi um dos primeiros a ser denunciado. José Calixto, presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, não pertence a nenhum dos grupos prioritários da primeira fase de vacinação, mas recebeu a primeira dose da vacina da Pfizer. O autarca do PS conseguiu a vacina primeiro, por ser o presidente da fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, que gere o lar com o mesmo nome — que registou um surto de Covid-19 no mês de agosto, do qual resultaram 18 mortes.

Autarca, presidente do lar de Reguengos e vacinado antes do tempo. José Calixto “choca, mas não surpreende”

Já em Lisboa, a polémica levou mesmo à demissão do vereador da Proteção Civil da Câmara Municipal, Carlos Castro. Ele e a diretora do departamento de Higiene Urbana da capital portuguesa foram vacinados com doses que sobraram dos lares de idosos de Lisboa. Das 126 doses que sobraram da campanha de vacinação dos lares de idosos da cidade de Lisboa, 100 foram administradas a bombeiros e forças de segurança. As outras 26 doses foram aplicadas em pessoas envolvidas no processo de vacinação: 15 enfermeiros, oito elementos da Proteção Civil e três elementos da Higiene Urbana (envolvidos na recolha de seringas e resíduos). Entre os elementos da Proteção Civil foi vacinado o próprio vereador Carlos Castro.

Demitiu-se o vereador da câmara de Lisboa que foi vacinado com doses que sobraram de lares de idosos

Também o caso de Portimão, noticiado pelo Observador, envolve uma autarca: a presidente da câmara de Portimão, a socialista Isilda Gomes, recebeu as duas doses de vacina. A autarca, que pertence também ao Secretariado Nacional do PS, órgão de direção mais restrito, foi incluída na lista de vacinação dos profissionais que iriam trabalhar num hospital de campanha que foi recentemente erguido no recinto do Portimão Arena com o apoio da câmara.

Presidente da câmara de Portimão vacinada indevidamente. Justificação é intermediar videochamadas em hospital de campanha