O chefe do governo espanhol quebrou finalmente o silêncio e condenou esta sexta-feira a onda de protestos violentos que há três assola o país na sequência da detenção do rapper catalão Pablo Hasél, na terça-feira. Falando aos jornalistas durante uma iniciativa na Extremadura, Pedro Sánchez defendeu que “numa democracia plena não é admissível o uso de qualquer tipo de violência” e que “a violência é um ataque à democracia”.

“A democracia tem uma tarefa pendente, a de ampliar e melhorar a proteção da liberdade de expressão. Existe um amplo consenso dentro da sociedade de que é preciso proteger melhor a liberdade de expressão. O governo disse que ia melhorar a proteção legal”, começou por dizer, acrescentando que “numa democracia plena, e a democracia espanhola é uma democracia plena, não é admissível o uso de qualquer tipo de violência. Não há exceção. Porque não é uma liberdade, é um ataque à liberdade dos outros”.

Sánchez garantiu que o governo “fará frente a qualquer forma de violência e irá garantir a segurança dos cidadãos”. “A democracia protege a liberdade de manifestação, de expressão, inclusivamente dos pensamentos mais infames e absurdos. Mas não a violência. A violência é a negação da democracia”, disse o governante, segundo o El País.

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Pedro Sánchez junta-se assim a outros responsáveis políticos que já condenaram a onda de violência que tem varrido várias cidades espanholas desde que Hásel, de 33 anos, foi detido por glorificação do terrorismo e ataques contra a monarquia. Durante a manhã desta sexta-feira, o presidente da região da comunidade da Extremadura, Guillermo Fernández Vara, lembrou em entrevista à Canena Ser que o rapper não foi detido por apenas “opinar”, mas por apelar à violência e terrorismo. “Ninguém se questionou porque é que Hasél foi parar à prisão. Não se vai parar à prisão por opinar, mas por encorajar o terrorismo e também por apelar à violência”, afirmou.

O governante criticou também a posição do Podemos, que condenou a atuação das forças policiais. “Há um partido que tenta governar e outro que tenta que não haja governo”, declarou Vara. “Os governos não se manifestam e nem existem para fazer condenações, existem para governar. O Podemos coloca muitas vezes na agenda aquilo que permite marcar a diferença e não o que permite obter consensos”, criticou.

Também o ministro do Interior espanhol, Fernando Grande-Marlaska, se mostrou esta sexta-feira no Congresso contra o “uso injustificável da violência”.

Entretanto, após ter-se mostrado solidário com todos aqueles que foram “alvos de represálias” da polícia e de ter defendido que ser rapper não pode ser “um delito”, o porta-voz parlamentar do Podemos, Jaume Asens, afirmou esta sexta-feira que “a violência não é a solução”.

Oito dezenas de manifestantes foram detidas desde o início dos distúrbios, que duram há três dias e que têm sido especialmente violentos em Barcelona. De acordo com o El País, só na noite desta quinta-feira, as autoridades detiveram pelo menos 16 nessa cidade e em Valência. Os prejuízos são avultados. Em Madrid, estima-se que os distúrbios de quarta-feira na Puerta del Sol tenham provocado estragos de 200 mil euros. Em Barcelona, a situação é ainda mais grave: os danos causados por três noites de confrontos poderão ascender aos 500 mil euros.