O Parlamento Europeu levantou esta terça-feira a imunidade parlamentar de que gozavam três eurodeputados independentistas da Catalunha, entre eles Carles Puigdemont, fugidos da justiça espanhola após a tentativa de independência de 2017. O antigo presidente da região já anunciou que vai recorrer da decisão junto do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE).
“Iremos para o TJUE, o único [tribunal] que pode restaurar os graves danos causados à democracia europeia. A solução não passa por nos aproximarmos de Espanha, mas sim por Espanha aproximar-se da Europa”, escreveu Carles Puigdemont na rede social Twitter.
Gràcies a tants col·legues que s’han plantat davant la repressió. Anirem al TJUE, l’únic que pot restaurar el sever dany que se li ha fet a la democràcia europea. La solució no és que nosaltres ens acostem a Espanya sinó que Espanya s’acosti a Europa https://t.co/lM5ebhlCMr pic.twitter.com/VKAqQevdaL
— krls.eth / Carles Puigdemont (@KRLS) March 9, 2021
O resultado da votação telemática que teve lugar na segunda-feira ao fim do dia foi esta terça-feira anunciado em Bruxelas, tendo os europarlamentares tomado a decisão por 400 votos a favor, 248 contra e 45 abstenções.
Carles Puigdemont, que foi eleito para o Parlamento Europeu nas eleições de maio de 2019, e os seus antigos “ministros” Toni Comin e Clara Ponsati estão fugidos à justiça espanhola por estarem envolvidos na organização, em 2017, de um referendo considerado ilegal sobre a independência da Catalunha, uma região governada pelos movimentos separatistas, que têm a maioria no parlamento regional.
O levantamento da imunidade dos três deputados europeus irá permitir um novo exame, pela justiça belga, dos pedidos de extradição emitidos pela Espanha contra Puigdemont e Comin, que vivem na Bélgica desde 2017 para escapar à justiça espanhola.
As autoridades judiciais na Escócia, onde vive Ponsati, também suspenderam a avaliação do pedido de extradição enquanto esperavam a decisão do Parlamento Europeu.
Os três deputados são acusados pela justiça espanhola de “sedição“, e no caso do Puigdemont e de Comin também de “desvio de fundos públicos“, e já anunciaram que irão recorrer da decisão junto do Tribunal de Justiça da União Europeia, se a sua imunidade for levantada.
Os independentistas consideraram que o Supremo Tribunal espanhol não tem jurisdição para que esse recurso fosse apresentado naquele país e também denunciaram a “natureza política” do processo contra eles.
Vários antigos líderes catalães, que pertenceram ao governo regional liderado por Puigdemont, que permaneceram em Espanha, como o antigo vice-presidente Oriol Junqueras, estão a cumprir penas de prisão por terem organizado o referendo.
Os partidos separatistas catalães, apesar de muito divididos, saíram reforçados das últimas eleições regionais, que tiveram lugar em 14 de fevereiro último, e deverão continuar à frente do governo regional.
O Governo espanhol já se congratulou esta manhã com a decisão do Parlamento Europeu, tendo a ministra dos Negócios Estrangeiros de Espanha realçado que “os problemas da Catalunha se resolvem em Espanha e não na Europa”.
Arancha González Laya também afirmou que outras duas mensagens da votação da assembleia europeia eram que um eurodeputado “não pode usar o seu estatuto para evitar comparecer perante um tribunal nacional” e que o Estado de direito em Espanha é “sólido”.