A variante sul-africana B.1.351 (501Y.V2) terá surgido em agosto de 2020 na Baía de Nelson Mandela, a cidade mais afetada pela primeira vaga, na parte oriental da África do Sul, e tornou-se a variante dominante, em três províncias, em poucas semanas. As conclusões foram apresentadas esta terça-feira na Nature.

As principais linhagens durante a primeira vaga na África do Sul (B.1.1.54, B.1.1.56 e C.1) só tinham uma mutação na proteína spike (D614G) e não mostraram uma acumulação de mutações tão rápida como a variante 501Y.V2″, escreveu a equipa de Tulio Oliveira, investigador na Universidade de KwaZulu-Natal (África do Sul) e na Universidade de Washinghton (Estados Unidos).

A segunda vaga teve início em outubro e os contágios aconteceram de forma muito rápida sobretudo na província do Cabo Oriental (onde se localiza o município da Baía de Nelson Mandela), mas também na província KwaZulu-Natal (na costa este) e a província do Cabo Ocidental (onde está a Cidade do Cabo). Em meados de novembro, a variante B.1.351 já era dominante nestas regiões. Da Cidade do Cabo, a variante viajou para norte, ao longo da costa oeste.

A rapidez da transmissão impôs a necessidade de sequenciar um grande número de amostras do vírus (ler os genes). Foram identificadas oito mutações na proteína spike, responsável pela ligação do vírus às células humanas, que parecem explicar como a variante se tornou dominante, quer pelo aumento da transmissão, quer por uma potencial fuga ao sistema imunitário.

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As mutações K417N, E484K e N501Y são as mais preocupantes, até agora, mas os autores defendem que são precisos mais estudos para compreender totalmente o impacto das restantes mutações, assim como a origem desta variante.

Uma das hipóteses, explicam os investigadores, é a evolução no organismo de um hospedeiro. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com o um doente imunocomprometido norte-americano que demorou 20 semanas a livrar-se do coronavírus SARS-CoV-2. Neste período, as mutações do vírus deram origem à mutação N501Y.

Os investigadores alertam, que dada a diversidade de mutações nesta variante sul-africana, não é possível pensar que todo o processo evolutivo tenha ocorrido num único indivíduo imunocomprometido, mas o facto de a África do Sul ser um dos países mais afetados pela pandemia de VIH faz a equipa de Tulio Oliveira recear que estes doentes de sistema imunitário debilitado criem condições ideais para a evolução do vírus e surgimento de novas mutações.