A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) alertou esta quarta-feira para a fome, a cólera e a guerra que se vive em Cabo Delgado, Moçambique, região onde a situação humanitária é cada vez mais grave.

Em comunicado, a fundação, que promoveu várias campanhas de apoio ao trabalho desenvolvido na região pela Igreja Católica, partilhou o relato de Ededard Silva, um missionário brasileiro que se encontra em Pemba, após a missão católica de Nangololo, onde esteva colocado, ter sido destruída pelos terroristas no final de outubro de 2020.

Este padre afirma que os grupos armados continuam a atacar povoações, nomeadamente em Nangade, e que se agrava a situação humanitária nesta província situada a norte de Moçambique.

O sacerdote alertou para “as condições profundamente débeis em que se encontram os mais de 600 mil deslocados, pessoas que foram forçadas a fugir de suas casas, das suas aldeias e vilas por causa dos ataques violentos que têm vindo a assolar esta região desde outubro de 2017, que, desde há algum tempo, passaram a ser reivindicados por grupos ‘jihadistas‘”.

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“A situação de seca que se tem vivido nesta zona norte de Moçambique, aliada ao desenraizamento das populações deslocadas, faz temer uma situação de profunda precariedade alimentar”, prosseguiu a Fundação AIS no comunicado.

Além da fome, continuam “a ameaça de ataques por parte dos grupos armados”, disse o padre Edegard.

Além dos “ataques constantes” em Nangade, “a região de Cabo Delgado está a registar também casos de cólera e de malária, o que vem agravar uma realidade já de si muito frágil ao nível da prestação de cuidados de saúde”.

“O facto de haver milhares de pessoas deslocadas em cidades como Pemba, ou nos chamados locais de reassentamento, pode ajudar à propagação destas doenças”, alertou a fundação, referindo que “o sistema de saúde, que já era difícil e que não respondia à demanda do dia-a-dia, vê-se agora perante uma situação ainda mais agravante que é esta população deslocada ter de procurar o posto de saúde ou o hospital para esses casos mais constantes que são a malária e a cólera”.

Na mais recente atualização de dados compilados pelas agências humanitárias, as Nações Unidas revelaram que o número de deslocados devido ao conflito armado em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, tinha subido para 670 mil pessoas, em dezembro do ano passado.

Cabo Delgado, em Moçambique, vive a pior crise humanitária das últimas décadas

Além das pessoas que fugiram das suas casas, na maioria crianças e jovens, muitas comunidades que os recebem estão sob pressão e estima-se que haja 950 mil pessoas “a enfrentar fome severa” nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula – sendo 242 mil crianças com desnutrição grave.

Os campos foram abandonados e os mercados destruídos, detalhou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

Cabo Delgado é uma região rica em pedras preciosas, madeiras e local onde avança o maior investimento privado de África para extração de gás natural a partir de 2024. Diversos relatórios internacionais indicam que a costa da província também faz parte de uma das rotas de tráfico de droga, sobretudo heroína.