O centro liberal reforça-se e os partidos menos centristas e liberais (à direita e sobretudo à esquerda) não capitalizam a insatisfação e a crise económica e social decorrentes da pandemia da Covid-19. Estas são duas conclusões dos resultados eleitorais nos Países Baixos, que reforçaram a votação do vitorioso partido liberal de centro-direita VVD, de Mark Rutte — primeiro-ministro do país desde 2010 — e que tornaram o partido centrista e europeísta D66 de Sigrid Kaag (ministra do último governo de coligação de Rutte) a segunda força política do país.

As projeções já divulgadas apontam não apenas para uma nova vitória do VDV de Mark Rutte como para um reforço da votação alcançada nas últimas eleições legislativas, em 2017: a formação “liberal-conservadora” terá conseguido eleger entre 35 a 36 deputados para o Parlamento (dos 150 que o compõem), quando em 2017 conseguira 33.

Em segundo lugar ficou o D66, um partido moderado e “liberal-progressista” que continua a crescer eleitoralmente: em 2017 conseguira eleger 19 deputados, mais sete do que na eleição anterior, e agora terá chegado aos 27 parlamentares. É o melhor resultado de sempre da história do D66, fundado há mais de 50 anos.

O “Partido pela Liberdade” (PVV), uma formação política populista, nacionalista e de extrema-direita da Holanda, deixou de ser o segundo maior partido nos Países Baixos e teve uma ligeira queda que contrasta com o crescimento nas eleições anteriores. Em 2017, conseguira eleger 20 deputados, mais cinco do que nas legislativas antecedentes. Agora ficou-se pelos 17 deputados — menos do que nas últimas eleições, mas mais do que nas penúltimas legislativas.

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Em quarto lugar nas eleições terá ficado o partido democrata-cristão CDA, que integra o PPE no Parlamento Europeu e que teve uma queda eleitoral mais significativa: em 2017 conseguira eleger 19 deputados, ficando em terceiro lugar (com mais 0,2% do que os liberais progressistas do D66), agora elegeu 14 (menos cinco).

Também a esquerda tradicional teve uma derrota: o Partido Trabalhista (PvdA) não beneficiou da demissão em janeiro do Governo de Mark Rutte — que provocou eleições antecipadas — e continua com nove deputados, enquanto o partido ecologista e de esquerda “GreenLeft” e os socialistas-comunistas terão elegido apenas oito deputados cada um. Em 2017, ambos tinham conseguido eleger 14 deputados.

Apesar do reforço dos partidos centristas, é ainda assim de notar que um outro partido populista de extrema-direita que não o PVV — o “Fórum pela Democracia” — terá conseguido eleger oito deputados, quadriplicando a votação obtida em 2017 (elegera dois).

“Tenho energia para mais dez anos”, diz Mark Rutte

As eleições antecipadas foram agendadas para este mês de março depois da demissão do anterior Governo de Mark Rutte, na sequência de um escândalo relacionado com o efeito discriminatório em imigrantes da vigilância anti-fraude aplicada à atribuição de apoios sociais.

Demissão em bloco no governo holandês depois de escândalo nos apoios sociais a imigrantes

O anterior Governo holandês, liderado pelo VVD do primeiro-ministro Mark Rutte, era uma coligação governamental que reunia o principal partido de Governo com os democrata-cristãos do CDA, os “liberais-progressistas” do D66 e o partido centrista e social-cristão “União Cristã”.

Face aos resultados destas eleições, Mark Rutte poderia formar um Governo com os anteriores parceiros de coligação mas para tal terá de contar com a vontade do CDA, que não parece ter beneficiado (antes pelo contrário) dos últimos anos de governação. O próprio reforço de votação do D66, que se tornou o segundo maior partido da Holanda e que pode tentar aproximar ligeiramente a governação do centro-esquerda, pode tornar difícil a harmonia do CDA com um novo governo de Mark Rutte.

Em 2017, as negociações para obter acordos de coligação que permitissem formar Governo nos Países Baixos foram longas — demoraram 208 dias, ou seja, mais de seis meses.

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Mark Rutte na reação aos resultados eleitorais (@ POOL/AFP via Getty Images)

Feliz pelo resultado eleitoral e pela perspetiva de continuar como primeiro-ministro, caso as negociações com outros partidos para a formação de Governo corram como o esperado, Mark Rutte reagiu com alegria aos resultados dizendo aos jornalistas: “Os eleitores nos Países Baixos deram ao meu partido um voto de confiança esmagador”. Embalado pelo resultado, disse até: “Tenho energia para mais dez anos” no Governo.

Já a reação da líder do D66, Sigrid Kaag, foi condizente com uma noite histórica que deu ao partido o melhor resultado de sempre: na rede social Twitter, a líder do partido e antiga ministra de Mark Rutte — que deverá voltar a integrar um Governo — partilhou uma fotografia a celebrar de pé e em cima de uma mesa.

Aos jornalistas, Sigrid Kaag disse ainda: “Acreditei sempre, e esta noite confirmou-o, que os holandeses não são extremistas. São, sim, moderados. As pessoas apreciam a política pela positiva”.