A vontade de trazer algo novo para o mercado e a experiência na área da dermocosmética (em marketing) conduziram Maria Lourenço à posição de jovem empreendedora. Aos 28 anos, criou a [PH]ACT, uma marca portuguesa suficientemente consciente para tirar partido de ingredientes naturais, mas realista que baste para não fechar a porta a inovações laboratoriais que fazem parte do nosso dia-a-dia. No fundo, ela só quer dar um passo rumo à sustentabilidade, mas sem comprometer o desempenho do produto.
“Desenvolver um projeto próprio foi sempre o que mais me desafiou dentro das empresas por onde passei. Mas só fazia sentido fazê-lo se fosse para acrescentar algo. No mercado, observei duas coisas: marcas gigantes a quererem ser mais sustentáveis, e onde um pequeno passo tem logo um impacto brutal, e marcas pequenas a aproveitarem-se do greenwashing, o que é uma forma terrível de conquistar o consumidor”, explica Maria Lourenço, que passou duas vezes pela L’Oréal e ainda pela Pierre Fabre, ao Observador.
A perspetiva sobre o mercado deixou um ponto assente: independentemente do projeto que iria desenvolver, este teria de ter uma forte componente informativa, pedagógica até. Como em muitas outras histórias de empreendedorismo vividas no último ano, a pandemia ditou o arranque do negócio, um processo “caro e demorado”, que no último verão ainda não era garantidamente viável. “Lançar uma marca de cosmética em Portugal, tal como em toda a Europa, é muito complicado. É possível fazer champô sólido em casa. Se isso é seguro? Não sei, tenho as minhas dúvidas”, afirma.
A jovem empresária não se alonga em críticas sobre a nova vaga de cosmética artesanal, ao mesmo tempo que se recusa a pôr todos os projetos no mesmo saco. Acima de tudo, soube desde o início o que queria para a [PH]ACT e não era uma marca de produtos 100% naturais. “Não é por algo ser natural que é bom, da mesma forma que não é por ser químico que é mau. Mau é as pessoas não saberem o que está por trás de um rótulo”, admite.
Vejamos o caso do champô sólido. Maria explica que, dentro da cosmética, os produtos para o cabelo são os mais consumidos em Portugal, daí que tenha sido uma escolha óbvia no âmbito comercial. Atualmente, são três fórmulas para diferentes tipos de cabelo e um condicionador. Formulação e produção são feitas em Portugal, tal como alguns dos ingredientes usados — o azeite, a spirulina (dos Açores) e a cortiça (natural, não em aglomerado) usada nas caixas.
Aos ingredientes ativos de origem natural juntam-se componentes criados em laboratório. “Não temos problema nenhum em assumir isso, porque o benefício está precisamente em não prejudicar o produto. Falo da estabilidade da fórmula, da forma de utilização, do desempenho e da ação cosmética, respeitando sempre o pH do cabelo e do couro cabeludo”, explica ao Observador. Sobre o índice, Maria esclarece que os champôs da [PH]ACT não são feitos através do processo de saponificação (do qual resultam os sabonetes comuns), mas resultam de surfactantes, o que deixa o produto final com um pH 5 (cabelo varia entre 4,5 e os 5,5).
“Não há nada nos cosméticos orgânicos ou naturais que os torne mais seguros”
“Uma das coisas que sempre me fez alguma confusão é a forma como algumas marcas comunicavam o facto de serem naturais e sustentáveis utilizando embalagens em papel craft. Não é necessariamente mais sustentável do que o papel branco, tem a ver com a origem”, aponta ainda. O resultado está à vista e inclui papel branco, reciclado e certificado pelo FSC (Forest Stewardship Council).
No entanto, uma ressalva: “O impacto da cosmética sólida não tem tanto a ver com a embalagem de plástico da qual estamos a abdicar, mas sobretudo com a eficiência que permite no transporte. Em número de lavagens, o champô sólido com que encheríamos um camião, por exemplo, em champô líquido seria o suficiente para encher entre oito e dez”, assinala.
Outros detalhes foram tidos em conta para o lançamento da marca, no início deste mês, nomeadamente os tamanhos das caixas, suficientemente diversos e reduzidos para evitar desperdício através de envios em embalagens excessivamente grandes. Além disso, a marca assegura que as entregas são já totalmente neutras a nível carbónico. “Os consumidores estão muito mais interessados em tornar a ligação com as marcas mais humana, acho que é um dos efeitos da pandemia. Então partilham informação, fazem recomendações. Uma das coisas que têm dito é que a sensação é a de que estão a usar um champô tradicional. Sempre quis que a experiência fosse essa”, afirma.
Nome: [PH]ACT
Data: 2021
Ponto de venda: loja online
Preços: entre 12,95 e 14,95 euros (caixa em cortiça)
100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.
Artigo atualizado no dia 19 de março, às 10h30.