Um navio com cerca de mil deslocados de Palma que desde quarta-feira pedem ajuda na península de Afungi é esperado entre esta terça e quarta-feira em Pemba, disse à Lusa fonte da petrolífera Total.

O navio transportará a população mais carenciada após o ataque de quarta-feira, dia 24, à vila de Palma e que tem passado por dificuldades por falta de alimentos, água e abrigo junto ao recinto do projeto de gás, local onde procuraram segurança. A mesma fonte disse que desde o ataque a Palma já foram distribuídas 15 toneladas de bens alimentares essenciais à população deslocada em Quitunda, na península de Afungi, junto ao complexo em construção.

A prioridade para transporte é dada às pessoas mais vulneráveis, acrescentou a mesma fonte, de acordo com a qual não há cidadãos estrangeiros entre as pessoas a transportar. Segundo referiu, tem sido prestado tratamento clínico no complexo empresarial em construção, em colaboração com a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Os feridos têm sido transportados por via aérea para Pemba, encontrando-se, entre eles, mulheres em trabalho de parto, adultos e crianças alvejadas, entre outros ferimentos, acrescentou outra fonte ligada às operações – sendo que o auxílio já terá sido prestado, pelo menos, a cerca de 20 pessoas. As Nações Unidas são uma das organizações que mantém uma ponte aérea com Afungi com pequenos aviões, mas toda a informação sobre a operação em curso é propositadamente escassa porque os grupos armados continuam a ser uma ameaça na zona de Palma – e Afungi está a apenas meia dúzia de quilómetros.

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Betinha Ribeiro, membro da Cáritas em Pemba, mostrou à Lusa uma sala com 1.920 conjuntos de receção a deslocados (com bolachas e água) que aguardam pela respetiva chegada a Pemba. Segundo indicou, cada organização humanitária entregará itens diferentes para o primeiro acolhimento à população deslocada que carece de cuidados básicos.

Desde domingo que diversas embarcações, privadas e outras organizadas pela Total e autoridades, têm transportado pessoas para Palma, num número que já deverá ser superior a 2.000, mas sem confirmação oficial.

“Ainda não temos informação de chegada da população. A informação que temos é que só estão a chegar funcionários” dos projetos de gás, do Estado e outras firmas. “Estes ‘kits’ são para a população”, desamparada e obrigada a fugir da violência armada, referiu. Os deslocados em Afungi serão só uma parte dos milhares em fuga e que avançaram em diferentes direções atravessando o mato desde quarta-feira, alguns chegando à fronteira com a Tanzânia, 50 quilómetros a norte.

Fonte ligada a operações de resgate e segurança disse à Lusa que ainda há população refugiada em praias do distrito de Palma a aguardar transporte e que ainda não há sinais claros de controlo da vila pelas forças militares, apesar de haver operações em curso.

Ao mesmo tempo, o movimento aéreo de avionetas no aeroporto de Pemba cresceu, com algumas empresas a recorrerem a meios aéreos para transportar funcionários que ainda se encontram no recinto em construção em Afungi.

A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes. O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia. Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.