Na matriz de risco que traça as “linhas vermelhas” da Covid-19 em Portugal, há apenas uma região fora do quadrado verde: o Algarve. Mais do que isso, esta zona a sul do país não está só fora do quadrado verde como já atravessou toda a área laranja e está muito perto de entrar no quadrado vermelho. A região algarvia é a única onde os casos por 100 mil habitantes, na média a 14 dias, estão a subir e também a única com um índice de transmissibilidade superior a 1. A isto junta-se o facto de 95% das infeções registadas serem da variante britânica.

Os dados são do novo relatório de monitorização das linhas vermelhas para a Covid-19 da Direção-Geral da Saúde (DGS) e do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), que passará a ser publicado semanalmente, às sextas-feiras. O primeiro relatório, divulgado este sábado, traça o cenário da pandemia em Portugal nas últimas semanas de março — um cenário que coloca o Algarve como a pior região do país nos números da Covid-19.

O gráfico da matriz de risco que mostra a incidência dos casos e a transmissibilidade

No que diz respeito aos casos por 100 mil habitantes, na média dos últimos 14 dias, o Algarve regista quase o dobro do valor nacional. Esta região a sul do país, na semana de 18 a 31 de março, contabilizou 112 infeções por 100 mil pessoas, quando o valor nacional se situa nos 65,9. Segundo o relatório da DGS/INSA, depois do Algarve segue-se Lisboa e Vale do Tejo com 73 casos por 100 mil habitantes, na média a 14 dias, o Alentejo com 72, Norte com 53 e o Centro com 49.

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Quanto ao índice de transmissibilidade, o Rt, desde meados de fevereiro que tem aumentado gradualmente, tanto a nível nacional, como a nível regional. Mas esse aumento é mais “notório” no Algarve. Esta é, aliás, a única região onde este valor é superior a 1: regista um Rt de 1,19 face aos 0,97 registados a nível nacional, calculados para o período de 24 a 28 de março de 2021. Já a região Centro é a que teve o valor do Rt mais baixo: de 0,88.

Há ainda um terceiro fator que contribui para que o Algarve seja a região com os piores números da pandemia em Portugal. De acordo com a estimativa da DGS e do INSA, 95% dos casos registados nesta região do sul nas últimas semanas de março eram da variante britânica. O Algarve e Lisboa — onde a prevalência da variante associada ao Reino Unidos é de 76% — são as duas únicas regiões do país que estão acima da prevalência nacional desta variante, que se situa nos 70,6%. Segue-se o Norte com 66,5%, o Centro com 57% e o Alentejo com 31,7%.

Grupo dos 20 aos 29 anos com maior incidência de casos. Cuidados intensivos ocupados por pessoas entre 70 e 79 anos

Na semana de 18 a 31 de março, o grupo etário que registou maior incidência de casos de infeção foi o dos 10 aos 29 anos, com 93 casos por 100 mil habitantes na média a 14 dias, segundo relatório da DGS e do INSA. Este valor está assim acima do nacional: a incidência cumulativa a 14 dias no país foi de 65,9 casos por 100 mil habitantes — uma tendência considerada “estável”. Já o grupo com mais de 80 anos apresentou uma incidência cumulativa a 14 dias de 51 casos por 100 mil habitantes — “o que reflete um risco de infeção inferior ao risco para a população em geral”, lê-se no relatório.

Quando se olha para para o número de camas nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) ocupadas com casos de Covid-19, verifica-se que este número tem “apresentado uma tendência decrescente” e, segundo o relatório, “é expectável que assim se mantenha se a redução do número de novos casos continuar a ocorrer”. Dos 129 doentes internados em UCI a 31 de março, 39 deles tinha entre 70 e 79 anos — é a faixa etária com o maior número de casos de Covid-19 em UCI.

Foram registados 50 casos da variante sul africana — e pode já haver transmissão comunitária

Até dia 28 de março, já foram diagnosticados 50 casos da variante associada à África do Sul: 54% em Lisboa e Vale do Tejo e 36% na região Norte. Em alguns destes casos, não foi possível estabelecer o contexto de transmissão — “o que sugere a possibilidade de transmissão comunitária, ainda que de muito baixa expressão”.

Já quanto à variante associada ao Brasil, foram registados 22 casos até 28 de março — metade eram residentes em Lisboa e Vale do Tejo. “Durante a investigação epidemiológica identificou-se história de viagem na maioria dos casos, não havendo evidência de transmissão comunitária sustentada em Portugal”, indica a DGS e o INSA no relatório.

Quase 8% dos casos confirmados foram notificados com atraso

O relatório analisa ainda a taxa de positividade dos testes para a SARS-CoV-2 que, de 25 a 31 de março foi de 2% — um valor que se encontra abaixo do limiar definido dos 4%. Também se verificou uma diminuição do atraso na notificação dos casos confirmados. Ainda assim, de 29 a 31 de março, 7,8% dos casos confirmados de infeção foram notificados com atraso — o que é, ainda assim, uma diminuição fase ao período entre 22 e 28 de março em que a proporção de atraso foi de 8,7%.

Quanto ao isolamento e rastreamento dos casos, nos últimos 7 dias, “todos os casos notificados foram isolados menos de 24 horas após a notificação e 91,5% dos seus contactos foram rastreados e isolados no mesmo período.